Machado de Assis foi amante da mulher de José de Alencar?
Um segredo de quase 150 anos ainda atiça a curiosidade dos leitores
(Da série 140 anos da morte de José de Alencar).
Machado de Assis casou-se relativamente tarde para a sua época. Tinha 30 anos quando trocou alianças com Carolina Xavier de Novais, também uma “solteirona”, portuguesa de nascimento, descendente de uma tradicional família da Península e, segundo consta, dotada de notável cultura e sensibilidade.
Não tiveram filhos, não transmitiram a nenhuma criatura o legado de nossa miséria, mas, segundo a unanimidade dos biógrafos, as quase quatro décadas de vida em comum transcorreram na mais absoluta harmonia. Viúvo em 1904, Machado duraria pouco sem a esposa.
A ela dedicou um dos mais belos e conhecidos poemas de sua carreira:
— “Querida, ao pé do leito derradeiro/ Em que descansas dessa longa vida,/ Aqui venho e virei, pobre querida,/ Trazer-te o coração do companheiro.”
Esse clímax de novela das seis torna o que segue ainda mais significativo.
Machado costumava dizer que jamais escreveriam a sua biografia na íntegra, “porque ninguém é mais reservado nessa matéria do que eu”. Ao mesmo tempo era obcecado pelo tema do adultério, sempre presente em seus principais contos e romances.
Irônico e mordaz, abordou todos os lados do triângulo amoroso. Memórias Póstumas de Brás Cubas, por exemplo, é a ponta do amante; Quincas Borba, da esposa pulando a cerca; e Dom Casmurro, do marido traído.
Como se isso não bastasse, alguns de seus conterrâneos especularam sobre o que o mestre fazia nas horas mortas da tarde. O escritor Humberto de Campos (1886-1934) chegou a escrever que Machado era o pai biológico de um certo M. de A., ou Mário de Alencar, filho de ninguém menos que o político e romancista José de Alencar.
Há alguns anos, quando Carlos Heitor Cony relembrou a fofoca na sua coluna da Folha, sugeriu que Dom Casmurro foi baseado em fatos reais. Capitu, nesse caso, seria a elegante e distinta Georgiana Augusta da Gama Cochrane de Alencar, esposa do autor de Iracema.
Cogitações à parte, jamais saberemos a verdade. Não bastasse o fato de que Machado era realmente discreto nos assuntos pessoais, é possível que tenha mantido, durante toda a vida, uma conduta de marido exemplar.
Que foi um escritor perfeito, disso ninguém duvida. Agora, se foi também um adúltero perfeito, nunca pego com as calças na mão, aí a história vai longe, longe…