Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99

O Leitor

Por Maicon Tenfen Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Lendo o mundo pelo mundo da leitura. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

O futebol é o nosso esporte? Que nada, é a Capoeira!

Se fosse vivo, Monteiro Lobato perguntaria onde estão os livros, filmes, séries, games e HQs com o Herói da Capoeira

Por Maicon Tenfen 13 jul 2018, 08h14
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Pode parecer incrível hoje em dia, mas a introdução do football foi problemática no Brasil. Intelectuais e desportistas das mais variadas tendências saíram a público para esbravejar contra a “brincadeira selvagem” dos bretões. Argumentavam que, em vez de dar moral para estupidezes europeístas, deveríamos clamar a primazia e a perfeição do nosso próprio jogo, a capoeiragem, excelente como condicionamento físico e sistema de defesa pessoal.

    Em diversas crônicas publicadas no princípio do século XX, o escritor Coelho Neto sugere a adoção da Capoeira como o esporte da pátria, ideia que consagraria num artigo antológico, Nosso Jogo (1928), sempre citado por pesquisadores do tema.

    A capoeiragem deve ser ensinada em todos os colégios, quartéis e navios, não só porque é excelente ginástica, na qual se desenvolve, harmoniosamente, todo o corpo e ainda se apuram os sentidos, como também porque constitui um meio de defesa individual superior a todos quantos são preconizados pelo estrangeiro e que nós, por tal motivo apenas, não nos envergonhamos de praticar.

    Coelho Neto

    Muito antes, em 1910, Coelho Neto se unira a Luiz Murat e Germano Haslocher para enviar um projeto à Mesa da Câmara dos Deputados tornando obrigatório o ensino da Capoeira nos institutos oficiais e nos quartéis. Infelizmente, segundo relato do próprio autor, o trio desistiu de lutar pela causa. Motivo? Foram ridicularizados e achincalhados, simplesmente porque a Capoeira é… brasileira!

    Continua após a publicidade

    Mais nacionalista era Monteiro Lobato. Sempre desconfiado das influências estrangeiras, football incluso, acreditava que, para a Capoeira perder a fama marginal e ser vista como esporte, precisaríamos alimentar a memória coletiva com as façanhas dos antigos mestres da ginga, então esquecidos nas brumas do período imperial.

    Infelizmente não se guardou memória estreita desse esporte cujos anais se encheram de maravilhosas proezas. Não teve poetas, não tem cantores, não teve sábios que as salvaguardassem do olvido; e de todo o nosso rico passado de rasteiras, rabos de arraias e soltas restam apenas anedotas esparsas, em via de se diluírem na memória de velhos contemporâneos.

    Monteiro Lobato

    Não obstante o pessimismo dos nossos escritores, a Capoeira proliferou sozinha, a despeito das perseguições que a cultura negra sofreu ao longo do século XX. Hoje desempenha um papel relevante no mundo do esporte e da chamada “representatividade nacional”. Segundo dados levantados pela revista Superinteressante, a Capoeira é o sexto esporte mais popular do Brasil, com 6 milhões de praticantes. Repetindo: 6 milhões de praticantes! Entre os esportes de combate, fica em primeiro lugar, ganhando longe do Judô, o segundo, que conta com 1 milhão e 100 mil atletas. Professores de Capoeira fazem sucesso no exterior, dando aulas para celebridades de Hollywood e divulgando a arte entre a classe média europeia.

    Continua após a publicidade

    Se Coelho Neto estivesse vivo, perguntaria: onde está o apoio do governo — e principalmente do público — para a difusão do esporte? Um décimo do que é gasto no football transformaria a Capoeira no maior espetáculo da Terra, na poesia de exportação oswaldiana, num soft power semelhante ao Karatê japonês e ao Kung Fu chinês. É por isso que Monteiro Lobato, se vivo, perguntaria pelos livros, filmes, séries, games e HQs com o “herói da Capoeira”, ou seja, todo o material narrativo necessário para fundamentar o esporte em termos míticos.

    Nada contra o futebol (agora aportuguesado, ok, porque também é nosso), mas já passou o tempo de tocar músicas com uma nota só. O berimbau tem pelo menos duas.

     

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.