Hoje Thomas Pynchon completa 81 anos de idade. Vai ter festa, bolo, parabéns a você? Ninguém sabe. De todos os escritores norte-americanos em atividade, nenhum é mais discreto do que Pynchon. Sempre evitou as máquinas fotográficas e acabou construindo em torno de si uma mitologia de silêncio e reclusão. Nunca concedeu entrevistas, nem mesmo por escrito, e pouquíssimas são as fotos do seu rosto que circulam na internet.
Os efeitos desse comportamento são paradoxais. Num mundo em que muitos vendem a alma para estar na mídia (e, se obtêm algum êxito, são sugados e logo devolvidos ao anonimato), Pynchon faz um movimento contrário e acaba cercado de holofotes e atenção. Num lance cômico e incompreensível como os personagens dos seus livros, sua ausência é que se faz presente e rouba a cena.
Como muitas celebridades do universo pop, Pynchon apareceu certa vez num episódio d’Os Simpsons. Já que não exibe o rosto há décadas, os produtores do programa resolveram personalizá-lo com um saco de papel na cabeça.
É claro que tamanho apego à privacidade despertaria os comentários e as lendas mais disparatadas. Durante um tempo acreditou-se que Pynchon sequer existisse, que fosse apenas o pseudônimo de outro escritor que estivesse a fim de escrever besteiras sob o efeito de LSD. Depois espalharam que Pynchon, na verdade, era ninguém menos que J. D. Salinger, o famigerado autor de O Apanhador no Campo de Centeio. O rumor até que possuía alguma lógica — V, o primeiro romance de Pynchon, veio a público no mesmo ano que Salinger encerrou sua vida pública —, mas era absurdo demais para receber crédito na vida real.
O boato que surgiu a seguir alçou-se à condição de teoria da conspiração e dinamitou o que restava da seriedade em torno do enigma Pynchon. Do mesmo modo como até hoje tem gente que duvida da morte de Dom Sebastião, de Elvis Presley e de Bruce Lee, muitos garantem que Jim Morrison, o excêntrico vocalista do The Doors, ainda não morreu de verdade. E mais: Jim Morrison, óbvio, é Thomas Pynchon, e seus romances estão repletos de mensagens cifradas que explicariam, finalmente, qual o verdadeiro caminho para a luz.
Pelo sim pelo não, a literatura de Pynchon, apesar de divertida, não é fácil de ser ingerida. Seus livros costumam ser tijolos incomensuráveis, todo mundo comenta mas poucos os leem até a última página. Isso significa que Pynchon não faz apenas romances pós-modernos. O escritor é, ele próprio, o mais lisérgico e pós-moderno de todos os romances.