A crise climática que vem impactando diversas áreas do planeta tem provocado uma série de discussões em torno do que a sociedade pode realizar para tentar mitigar essa questão.
Recentemente, o estado do Rio Grande do Sul foi atingido por chuvas de elevada proporção, ocasionando perdas sociais e financeiras de elevada gravidade. A questão que trago para você, caro leitor de VEJA e VEJA NEGÓCIOS, é: o que as finanças podem fazer para ajudar a sociedade a implementar ações e projetos que permitam simultaneamente financiar a atividade produtiva, investindo em questões de caráter ambiental?
Uma das inovações financeiras mais recentes e que vem trazendo impactos positivos são os títulos de dívida corporativa denominados de green bonds. O primeiro título que foi caracterizado como green foi emitido em 2008 pelo Banco Mundial. Os green bonds são títulos que pagam uma taxa de juros ao investidor, mas com uma particularidade: o uso dos recursos captados com a emissão do título deve ser alocado em projetos sustentáveis. Ou seja, a empresa emissora divulga aos investidores para qual projeto de sustentabilidade o dinheiro será destinado. Dessa maneira, há uma maior transparência entre as partes (empresas e investidores), permitindo um investimento em sustentabilidade com menor risco.
As diretrizes previstas para emissão de green bonds mitigam esse risco ao adotar referências internacionais de melhores práticas para o mercado de títulos sustentáveis, além de exigir a obrigatoriedade de verificação dessas características ESG por avaliadores independentes e apresentação de relatórios periódicos após a emissão.
Existem dois princípios a que as empresas precisam se enquadrar para receber a verificação de título verde: o Green Bond Principle e o Climate Bonds Initiative. As empresas podem escolher sob qual princípio farão a emissão, uma vez que possuem particularidades no método de avaliação. Ainda que seja uma modalidade recente de investimento, o mercado de green bonds em 2021 atingiu 1,6 trilhão de dólares, com 2.045 emissores e 9.886 instrumentos, de acordo com o relatório Sustainable Debt Global State Of The Market, 2021.
O Brasil se comprometeu publicamente a alcançar a neutralidade climática em 2050 e, para isso, o governo anunciou um plano de transição que abrange seis importantes pautas: finanças sustentáveis, transição energética, adensamento tecnológico do setor produtivo, bioeconomia, economia circular e nova infraestrutura e serviços públicos para adaptação ao clima. Como primeiro passo para esse desafio, o Brasil emitiu seu primeiro título verde soberano, captando 2 bilhões de dólares em uma oferta cuja demanda atingiu 6 bilhões de dólares (3x oversubscribed). Essa iniciativa certamente incentiva as empresas privadas a acessarem o mercado de capitais de outra forma, por meio dos green bonds.
Diversas empresas brasileiras têm se destacado na emissão de títulos verdes nos últimos anos. Aqui estão alguns exemplos: Itaú Unibanco, Bradesco, Suzano e Klabin.
Tesouro Renda+: que tal um Descarboniza+?
Recentemente a Secretaria do Tesouro Nacional e a B3 lançaram um novo título na plataforma do Tesouro Direto, o Renda+.
O desenvolvimento do Tesouro Renda+ contou com a colaboração de especialistas e acadêmicos renomados. Entre os nomes destacados estão os professores Arun S. Muralidhar, PhD, e Robert C. Merton, laureado com o Prêmio Nobel de Economia. Eles contribuíram com estudos sobre produtos financeiros que facilitam o processo de poupança para uma previdência complementar, conceitos que foram fundamentais para a criação do Tesouro Renda+.
Nessa direção, a coluna faz uma singela sugestão à Secretaria do Tesouro Nacional e à B3: o lançamento de um título com o nome de Descarboniza+, destinando recursos não para o cofre do Tesouro, mas para uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) voltada a projetos de sustentabilidade.
Acreditamos que o investidor jovem, que está fortemente engajado nas questões climáticas, teria muito interesse nesse investimento. A sugestão é lançar na plataforma do Tesouro Direto um título para vencimento em 10 anos, indexado ao IPCA e juros de 6% a.a., com imposto de renda de 10% para o investidor que resgate apenas no vencimento.
Voltaremos em outra oportunidade para falar sobre a plataforma do tesouro direto.