A decisão do Conar sobre comercial que reviveu Elis Regina
Propaganda da Volkswagen causou controvérsia ao usar inteligência artificial para criar dueto póstumo da cantora com filha Maria Rita
A propaganda da Volkswagen que recriou digitalmente por meio de inteligência artificial a cantora Elis Regina poderá ser veiculada normalmente. O conselho de ética do Conselho Nacional de Autorregumentação Publicitária (Conar) arquivou o processo que eles abriram para avaliar se o comercial feria o código de ética da instituição. A propaganda continua no ar.
Alvo de controvérsias entre os fãs, a propaganda usou uma atriz de verdade que teve o rosto substituído digitalmente pelo de Elis Regina, morta em 1982, numa técnica conhecida como deep fake. “O colegiado considerou, por unanimidade, improcedente o questionamento de desrespeito à figura da artista, uma vez que o uso da sua imagem foi feito mediante consentimento dos herdeiros e observando que Elis aparece fazendo algo que fazia em vida”, informou o órgão.
O colegiado discutiu ainda da necessidade de informar do uso da nova tecnologia, mas concluiu que não ainda há regulamentação sobre o tema.
A peça investe numa conexão altamente emotiva entre presente e passado, ao juntar uma mãe e sua filha em versões da velha e boa perua Kombi, no modelo clássico dos anos 1970 e em sua reencarnação elétrica, a ID.Buzz, que será vendida no país em edição limitada pela montadora. Ocorre que Maria Rita, atualmente aos 45 anos — e a mãe, Elis Regina, morreu quando a rebenta tinha 4 anos.
O dueto póstumo mostra as duas interpretando Como Nossos Pais, canção de Belchior (1946-2017) imortalizada por Elis. A família da artista aprovou o resultado. “Foi tudo feito com carinho e respeito. Emocionou profundamente a Maria Rita e me emocionou também”, diz o produtor João Marcello Bôscoli, filho mais velho da estrela. A viagem nostálgica proporcionada pela IA teve o mérito, ainda, de reavivar a memória musical de Elis, ampliando seu apelo junto à nova geração.
Houve quem criticasse o fato de que uma empresa que teve laços históricos comprovados com a ditadura pudesse se utilizar da imagem de Elis, notória opositora do regime — e se Belchior aprovaria o uso da sua canção para tal fim, já que ela é também um libelo poético contra os militares. Os herdeiros de Elis minimizam a celeuma. “Ou a gente anda para a frente e perdoa ou vamos fazer uma revisão de tudo”, diz João Marcello Bôscoli.