A história tocante por trás de uma versão da música ‘Yellow’, do Coldplay
Diretor do filme 'Podres de Ricos' fez um apelo à banda para regravar a canção na língua chinesa - o que a tornou um hino de empoderamento asiático
A banda Coldplay termina sua turnê de quase um mês no Brasil nesta terça-feira, 28, no Rio de Janeiro, e pode se vangloriar de lotar estádios em onze apresentações eletrizantes pelo país. As músicas da banda também cresceram por aqui no streaming, sendo a mais ouvida entre elas a faixa pop Yellow. A canção do álbum Parachutes, de 2000, tem uma curiosa versão chinesa que se tornou um hino de autoestima para diversos asiáticos.
Em 2018, o diretor do filme Podres de Ricos, Jon M. Chu, pediu autorização ao Coldplay para fazer uma versão exclusiva da canção para a trilha do longa cujo o elenco é inteiramente asiático: a comédia romântica é protagonizada por Henry Golding e Constance Wu e conta também com a vencedora do Oscar Michelle Yeoh. A princípio, o Coldplay negou o pedido por medo de críticas, já que havia sido acusado de apropriação cultural pelo clipe e música das canções Princess of China (2012) e Hymn for the Weekend (2016). A Warner Bros. também se preocupava com o fato de amarelo ser considerado um termo pejorativo para se referir a asiáticos.
Chu, então, escreveu uma carta emotiva ao grupo, explicando seus motivos para querer tanto Yellow na trilha do filme. Nascido nos Estados Unidos, o diretor tem origem taiwanesa, e sempre conviveu com os estereótipos ruins sobre asiáticos e ficou muito tocado ao ouvir a canção do Coldplay, quando viu a cor amarela ser tratada como algo positivo pela primeira vez. “Eu sei que é um pouco estranho, mas por toda a minha vida eu tive uma relação problemática com a cor amarela. Desde ser chamado disso de forma depreciativa na escola, até assistir filmes em que as pessoas são chamadas dessa forma covardemente, ela sempre teve uma conotação negativa na minha vida. Isto até eu ouvir sua música. Pela primeira vez na minha vida, a cor foi descrita de uma forma bela, mágica, de um jeito que eu não tinha visto: a cor das estrelas, da pele, do amor. Foi uma imagem incrível e inspiradora que me fez repensar minha própria imagem”, começava a carta.
“Eu lembro de ver o clipe pela primeira vez. A cena do sol nascendo foi arrebatadora para mim, tanto como cineasta como amante de música. Imediatamente, a música se tornou um hino para mim, e meus amigos, nos dando um senso de orgulho que eu nunca tinha sentido antes. Mesmo que isso não tenha nem sido sua intenção. Nós poderíamos tomar a cor como nossa, e isso teve muito efeito na minha vida. Acho que sua música dará a uma nova geração de asiáticos-americanos o mesmo sentimento de orgulho que eu tive ao ouvir sua música. Sei que ela seria recontextualizada, mas acho que é isto que fará dela tão poderosa. Quero entregar um hino que os faça se sentir tão belos quanto suas palavras e melodias me fizeram sentir, quando eu mais precisava”, concluiu Jon M. Chu.
Após 24 horas do envio da carta do diretor, a banda autorizou o seu uso em uma versão chinesa gravada por Katherine Ho. Confira: