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O Som e a Fúria

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A nova guerra de estrelas como Taylor e Charli XCX pelo topo das paradas

Popstars sacam estratégia que diz muito sobre a indústria de hoje: lançar em ritmo frenético variações de suas canções e álbuns

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 6 jul 2024, 08h00
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  • Dona de uma carreira prolífica, Taylor Swift abriu 2024 sem intenção de reduzir o ritmo. Após ela protagonizar uma das turnês mais lucrativas de 2023 e ocupar o topo das paradas durante quase todo o ano, analistas vaticinaram que já havia ultrapassado o ponto de saturação. Dali em diante, dada a dinâmica competitiva do mercado na era do streaming e das redes sociais, com seu apetite voraz por novidades, manter-se no degrau mais alto das paradas seria missão impossível. Em fevereiro, porém, enquanto recebia seu 13º Gram­my, ela usou o discurso da vitória para avisar, de surpresa, que dali a dois meses lançaria mais um álbum. The Tortured Poets Department saiu em 19 de abril, com dezesseis faixas. Para euforia dos fãs, ainda no mesmo dia ela soltou outra versão do trabalho, intitulada The Anthology, com espantosas quinze faixas extras. O sucesso foi imediato: o trabalho ocupa o primeiro lugar das paradas até hoje. Nas últimas semanas, porém, Taylor ganhou duas fortíssimas desafiantes ao trono: Billie Eilish e Charli XCX. Ambas quase a desbancaram, não fosse a curiosa capacidade de Taylor de redobrar a aposta na mesma estratégia: lançar novas e infinitas versões do mesmo álbum para mobilizar fãs e se manter no topo.

    The Tortured Poets Department – Taylor Swift [Disco de vinil]

    A guerra tripla das estrelas diz muito sobre as mudanças na indústria musical nos últimos anos. Lançado em 17 de maio, Hit Me Hard and Soft, de Billie Eilish, flertou com o primeiro lugar — mas, coincidência ou não, no mesmo dia Taylor Swift sacou três novas versões de The Tortured Poets em vinil, com pequenos ajustes na capa e cores diferentes, apenas para manter altos os números de vendas e execuções no streaming. Billie Eilish sentiu o golpe e afirmou que a prática só servia para gerar lucro e “prejudicar o meio ambiente”, mas comprou a briga lançando uma versão do disco só com seus vocais isolados, outra com as batidas mais aceleradas e mais uma com as batidas lentas, além de LPs coloridos, CDs e cassetes. Correndo por fora, em 7 de junho, a britânica Charli XCX lançou o descolado Brat, e o fenômeno se repetiu. As reproduções do álbum dispararam. Mas, quando estava prestes a atingir o topo, eis que Taylor divulgou mais uma penca de novas versões de The Tortured Poets. Charli ironizou e contra-atacou com uma nova versão de seu álbum, com uma capa simplérrima, apenas com os dizeres em inglês: “É o mesmo Brat, mas tem três novas músicas, então não é”. Para bom entendedor, meia capa basta — imagine tantas assim.

    Hit Me Hard And Soft – Billie Eilish [Disco de vinil]

    Curiosamente, no Brasil, quem está levando a melhor é Billie Eilish — mas à sua revelia. E graças a um fenômeno que é o outro lado da moeda dessa febre de versões: a chamada “montagem”, ou MTG para os íntimos. Ela consiste numa nova prática de DJs e produtores nacionais de recriar músicas de grandes artistas com roupagem de funk ou eletrônica — o que tem se revelado um trunfo nas paradas de streaming. Mas os artistas e compositores só ficam cientes da existência da tal montagem quando ela já estourou: ao que tudo indica, Billie Eilish nem sabe do sucesso da versão de uma música sua criada por um DJ daqui.

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    Brat – Charli XCX [Disco de vinil]

    Lançar versões para colecionadores ou com gravações do fundo do baú não é tática nova, claro. Dos Beatles a Britney Spears, todos já se utilizaram disso, inclusive para conquistar mercados específicos como o Japão, onde o público exige uma versão exclusiva. No passado, porém, o lançamento de álbuns de astros como Madonna ou Michael Jackson era algo memorável, que acontecia uma vez por ano, e olhe lá. A diferença, agora, é que a projeção em um mercado altamente fragmentado exige uma guerrilha sem fim. Pois chegar ao topo é uma coisa (até Anitta já conseguiu). Outra, bem mais desafiadora, é se manter lá.

    Nessa nova realidade, Taylor mostra-se craque. Até o momento, já lançou 34 versões diferentes do último álbum, ou uma a cada cinco dias, em média — entram nessa conta LPs de cores chamativas, capas ligeiramente modificadas, versões acústicas, demos e faixas extras. Muitas delas ficam disponíveis por poucos dias e criam nos fãs um sentimento de urgência, fazendo com que comprem os álbuns em uma data específica, dando a Taylor a possibilidade de manipular os rankings nos períodos em que estiver perdendo força. Segundo dados da Luminate, empresa que monitora o mercado, houve aumento de 42% das vendas do disco de Taylor após o lançamento de dois novos CDs disponíveis só no site da artista, cada um com uma versão acústica ligeiramente diferente. Para 2025, Taylor já estaria trabalhando em novo disco de inéditas. As rivais, óbvio, não deixarão por menos. A guerra de versões vai longe.

    Publicado em VEJA de 5 de julho de 2024, edição nº 2900

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