Uma das grandes lutas de Rita Lee para se firmar como roqueira no Brasil sempre foi a discriminação contra as mulheres. Rita afirmava que cansou de ouvir que para fazer rock no país era preciso ter culhões – ao que ela respondia que ovários e útero também. Curiosamente, o que poucas pessoas sabem é que o primeiro rock tocado no Brasil foi tocado por uma mulher, Nora Ney, em 26 de outubro de 1955 – anos antes da Jovem Guarda, por exemplo.
A incrível história de como a artista desafiou as convenções da época, num período em que o samba e a bossa nova dominavam as rádios brasileiras, é contada no livro Baby… Rock! Histórias do Rock ‘n’ Roll no Brasil de 1955 a 1965, de Ricardo Bandeira. Na obra, o autor conta que Nora interpretou a canção Rock Around The Clock, de Bill Haley and His Comets, no auditório da Rádio Nacional, no Rio de Janeiro. Além do clássico guitarra, baixo e bateria, é possível ouvir na gravação de Nora também uma sanfona. Na banda, estavam Radamés Gnattali (piano e arranjos), Zé Menezes (guitarra) e Chiquinho do Acordeon. A cantora, no entanto, ganharia notoriedade nacional por sua gravação do samba-canção Ninguém Me Ama, feita três anos antes.
Embora tenha cantado em inglês, o disco com a gravação da música saiu com o título em português, Ronda das Horas. Foi apenas dez anos depois, em 22 de agosto de 1965, que Roberto Carlos subiria ao palco do Teatro Record, em São Paulo, para apresentar o primeiro programa Jovem Guarda, e popularizar o ritmo entre os jovens, especialmente com a música Quero que Tudo Vá Para o Inferno.
Com 392 páginas, o livro de Ricardo Bandeira conta com dezenas de entrevistas e depoimentos que ajudam a entender como o estilo musical entrou no país – especialmente numa época em que havia uma ojeriza à guitarra elétrica. Já o primeiro rock original gravado em português no país, quem diria, foi feito por Cauby Peixoto, com Rock ‘n’ Roll em Copacabana.