Festival João Rock coroa alta do setor cultural no interior de SP
Com Emicida a Gilberto Gil, evento vai receber 70 mil pessoas e reforça boa fase de Ribeirão Preto como parada de shows nacionais e gringos
Fãs de rock, os colegas de faculdade Luit Marques e Marcelo Rocci costumavam encarar uma peregrinação comum aos que residem no interior: vira e mexe, a dupla viajava mais de 300Km de estrada para sair de Ribeirão Preto, cidade do estado de São Paulo, rumo à capital, para prestigiar shows e festivais de música – jornada que os fãs de sertanejo, gênero abundante na região, não precisavam trilhar para ver seu ídolo no palco. Empresários do ramo de eventos, a dupla decidiu então criar um festival na cidade para chamar de seu: nascia, em 2002, o João Rock – nome em homenagem aos muitos bateristas do estilo que se chamam João/John, como o lendário John Bonham, do Led Zeppelin. Duas décadas depois, o jogo virou: hoje, o João Rock virou destino pop para os paulistanos. “Recebemos pessoas de todos os estados do país, 80% do público vem de fora de Ribeirão Preto, sendo São Paulo a principal cidade a nos visitar”, diz Rocci.
Neste sábado, 3, o evento, com ingressos esgotados, receberá 70 000 pessoas no Parque Permanente de Exposições de Ribeirão Preto. Serão trinta atrações distribuídas em quatro palcos. O line-up conta com veteranos roqueiros que já passaram pelo festival, como Ira! e Capital Inicial, e inova ao trazer um elenco ilustre para um palco totalmente feminino, com nomes como Majur, Marina Sena e Ana Carolina; e outro com lendas da música brasileira, com apresentações de Tom Zé, Mutantes, Zé Ramalho, Alceu Valença e Gilberto Gil. Ainda se destacam no line-up Emicida, L7nnon, BaianaSystem, Pitty, entre outros. Os shows serão transmitidos ao vivo pelos canais pagos Bis e Multishow, a partir das 16h25 e 16h40, respectivamente.
Para além de ser um fenômeno do setor musical fora do eixo Rio-São Paulo — cidades que recebem festivais grandiosos, como o Lolapalooza e o Rock in Rio –, o João Rock reforça ainda uma tendência que colocou Ribeirão Preto como uma parada importante para grandes shows. Em turnê especial com sua formação original, a banda Titãs, por exemplo, só vai desviar da rota das capitais para uma parada em Ribeirão. Giros internacionais também colocaram a cidade na agenda – recentemente, Guns N’ Roses, Iron Maiden e Kiss fizeram shows por lá. Em setembro, será a vez de Rod Stewart.
Os apelos da região são muitos, de sua rede de serviço estruturada, com variedade de hotéis, restaurantes e shopping centers, além de sua economia vigorosa – a cidade possui o 25º maior Pib do país –, e sua localização entre outras grandes cidades do interior paulista e próxima a Minas Gerais. Luit Marques relembra ainda que a história da região comprova sua relevância de consumo cultural no Brasil. “Essa tradição vem desde os tempos dos Barões do Café que recebiam por aqui óperas – elas passavam por São Paulo e Ribeirão Preto. Então isso tá dentro do nosso DNA.”
Celebrando 20 anos, o João Rock agora mira expandir. Uma negociação com o Uruguai quase levou o festival para lá pouco antes da pandemia eclodir. Os organizadores não cravam quais os possíveis destinos do evento, mas garantem que a possibilidade existe. O primeiro passo seria fazer uma edição de verão em outra cidade. O rock não morreu — e está doido para viajar por aí.