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O Som e a Fúria

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O novo cachê polpudo que Gusttavo Lima deve embolsar com verba pública

Cidade de Minas Gerais com 29.000 habitantes pagará 800.000 reais por show do cantor em setembro, engrossando ganhos de sertanejos pagos por prefeituras

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 jun 2022, 08h57 - Publicado em 2 jun 2022, 19h08

Após a revelação de que Gusttavo Lima embolsou cachês de até 1,2 milhão de reais pagos com dinheiro público por prefeituras de cidades pequenas em Minas Gerais, Roraima e Bahia, o cantor sertanejo chorou e se disse perseguido em uma live. Pelo jeito, se depender de sua rica agenda shows, lágrimas não vão parar de rolar. VEJA apurou que o artista deverá receber cachê de 800.000 reais – valor semelhante ao de uma apresentação em São Luiz, Roraima – para cantar na 27ª Festa do Peão da pequena cidade de Campos Gerais, em Minas Gerais, prevista para ocorrer entre os dias 15 e 18 de setembro. O pagamento pelo show sairá dos cofres da Secretaria Municipal de Esporte, Lazer e Turismo da cidade, em um contrato celebrado sem a necessidade de licitação. Segundo o IBGE, Campos Gerais, que fica no sul de Minas, tem uma população estimada em 29.000 habitantes.

Além de Gusttavo Lima, a prefeitura também vai pagar pelos shows de vários outros artistas conhecidos do mundo sertanejo – nenhum deles, contudo, chega nem perto dos 800.000 a que Lima terá direito. Mesmo somados, os cachês de Fernando e Sorocaba (160.000 reais), Clayton & Romário (80.000 reais), Alok (300.000 reais) e Matogrosso e Mathias (90.000 reais), que também se apresentarão durante a Festa do Peão, ainda ficam 170 000 reais abaixo que de Lima, principal atração do evento. No total, só de cachês, a prefeitura vai desembolsar 1,43 milhão de reais. Embora os shows estejam sendo custeados com dinheiro público, haverá cobrança de ingressos, que podem ser adquiridos no site iPass! por 200 reais. Apenas o show de Matogrosso e Mathias, no dia 18, que terá entrada grátis.

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Nas últimas semanas, o cantor se viu envolvido em uma polêmica a respeito de seus cachês. Lima e outros artistas sertanejos são notórios apoiadores de Jair Bolsonaro e encampam as críticas do presidente à Lei Rouanet, vista como fonte de “mamata” de artistas ditos “de esquerda”. No dia 13 de maio, em um show em Sorriso (MT), a dupla Zé Neto e Cristiano disse no palco: “Estamos aqui em Sorriso, no Mato Grosso, um dos estados que sustentaram o Brasil durante a pandemia. Nós somos artistas e não dependemos de Lei Rouanet. Nosso cachê quem paga é o povo”. Na sequência, Zé Neto mandou uma indireta para Anitta, referindo-se a uma tatuagem íntima da cantora: “A gente não precisa fazer tatuagem no ‘toba’ para mostrar se a gente está bem ou não. A gente simplesmente vem aqui e canta e o Brasil inteiro canta com a gente”. Após o episódio, contudo, vieram à luz cachês milionários ganhos para esses artistas por prefeituras de pequenas cidades, sem a devida prestação de contas que a Lei Rouanet exige. Não por acaso, a hashtag #CPIdosSertanejos viralizou, com as pessoas exigindo a fiscalização desses pagamentos.

O caso de Gusttavo Lima chama mais a atenção justamente por se tratar de um dos maiores cachês do país. Outra cidade mineira, Conceição do Mato Dentro, que havia contratado o show do artista por 1,2 milhão de reais, anunciou que iria cancelar a apresentação após a divulgação de que os recursos seriam pagos com dinheiro dos tributos da CFEM (Compensação Financeira pela Exploração Mineral), que só podem ser usado em educação, saúde e infraestrutura. Na Bahia, mais um escândalo: a cidade de Teolândia contratou o cantor por 702.000 reais para a Festa da Banana deste ano. Mas o mesmo município enfrentou duas grandes enchentes nos últimos meses que destruíram diversas casas, além de alegar incapacidade financeira para não pagar o piso salarial dos professores.

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