‘Pantanal foi um divisor de águas na minha carreira’, diz Almir Sater
Em entrevista a VEJA, o músico, que interpreta o chalaneiro Eugênio na trama das 9, compara as duas versões da novela e elogia o filho Gabriel Sater
Trinta e dois anos após interpretar o misterioso peão Xeréu Trindade na primeira versão de Pantanal, na TV Manchete, o cantor e compositor Almir Sater retornou ao folhetim das 9 na Globo, desta vez como Eugênio, um sábio chalaneiro responsável por levar os moradores e visitantes ao Pantanal pelo rio. Já na nova versão da novela, o papel de Trindade ficou com o seu filho, o também músico Gabriel Sater, que deu ao personagem o mesmo ar misterioso do pai, recebendo muitos elogios por sua atuação. Em entrevista a VEJA, Almir Sater comparou as duas versões da novela e disse que Pantanal foi um divisor de águas em sua carreira. Leia a seguir os principais trechos:
Que diferenças encontrou em gravar o Pantanal de agora para o Pantanal de 32 anos atrás? Na novela passada, o Pantanal estava mais alagado e nossa operação era toda aérea. Desta vez, o Pantanal passa por um ciclo de seca e está com pouca água. O chalaneiro sofre muito para navegar por ali. O nosso deslocamento agora foi todo terrestre. Mas o planeta está esquentando. O desmatamento tira a cobertura do solo e faz com que evapore mais água. Uma coisa puxa a outra. As queimadas surgem devido à seca excessiva. O Pantanal é muito quente e qualquer fagulha, caco de vidro, moto desregulada ou carro velho que faz faísca pode provar um incêndio de proporções drásticas. O Pantanal, no entanto, é um dos lugares mais conservados que eu conheço.
As filmagens no Pantanal já acabaram. Era muito difícil chegar na fazenda? Gravamos na mesma fazenda da novela passada. Gravamos na altura do Rio Negro, próximo a Nhecolândia e Aquidauana. O Rio Negro é um rio diferente do Pantanal porque você não consegue vir de outro rio para entrar nele. Ele é cercado de brejos. Nós gastávamos seis horas de Campo Grande até lá de carro. É uma viagem suportável, mas, quando a estrada estava ruim, demorava dois dias ou às vezes, eu nem chegava. A fazenda fica a 250 km de Campo Grande. São 112 km de estrada até Aquidauana. Depois nós pegamos uma estrada de terra por mais 70 km. E o restinho da viagem, uns 40 km, nós fazemos por dentro das fazendas.
Como foi ver o seu filho, Gabriel Sater, interpretando o mesmo papel que o senhor interpretou na primeira versão da novela? O Xeréu Trindade é um personagem muito rico e que não existia na primeira versão até eu participar de uma festa no set da novela da Manchete. Me perguntaram se eu não queria participar e o Ruy Barbosa criou o personagem só para mim. Era uma forma de enriquecer a parte musical com o Sérgio Reis. Agora, meu filho está herdando esse personagem e é uma honra passar o bastão para ele. Ele fez teste com outros 28 violeiros e conquistou o papel por mérito dele.
Como foi a preparação para o duelo de violas que o seu personagem travou com o de Xeréu durante uma roda de viola? Nós sabíamos que aquela cena seria difícil. Buscamos as referências no filme Encruzilhada (1986), de Walter Hill, com música de Ry Cooder e Steve Vai no elenco. O Gabriel sempre gostou desse filme e foi uma oportunidade de brincarmos um pouco.
O que a novela Pantanal significou para a sua carreira? Sem dúvida nenhuma foi um divisor de águas. Antes da novela, meu público era segmentado, formado por pessoas que gostavam do som da viola instrumental. Depois da novela, meu som foi para o Brasil inteiro e eu viajei pelo país tocando viola. Passei a ser reconhecido e isso facilitou muito. Sinto que foi a partir daquele primeiro Pantanal que a música sertaneja começou a frequentar o horário nobre da televisão.
A que o senhor atribui o sucesso dessa nova versão? Essa nova versão só existe porque a primeira foi um sucesso. A primeira versão é incomparável. As duas são muito boas. O roteiro é ótimo. Agora, a novela começou a atrair pessoas que não se interessavam por novela. Os homens passaram a reclamar que o futebol estava atrapalhando o horário da novela (risos). Essa versão, no entanto, é mais comportada. A Manchete era uma emissora sensual. A Globo nunca precisou disso. Gosto dessa nova versão assim. Não sou careta, mas acho que não precisa disso (sensualidade). Já existe uma sensualidade natural. As atrizes são lindas, as cenas são românticas. É tudo muito bonito.
O senhor mora em São Paulo, mas tem fazenda no Pantanal. Como é a vida por lá? Eu sou um produtor rural também. Virei peão. Quando vem a entressafra é que eu saio para fazer shows. Sou criador de gado, tenho vaca de cria e vendemos bezerros. Gosto muito de criar.