Renato Teixeira sobre filha em ‘Pantanal’: ‘Bruaca confronta o machismo’
Em entrevista a VEJA, cantor falou sobre impacto da novela e sobre amizade com Almir Sater, Sérgio Reis e Fagner — com quem acaba de lançar um novo disco
Compositores de clássicos do cancioneiro popular brasileiro, o paulista Renato Teixeira e o cearense Fagner se juntaram e lançaram recentemente o primoroso álbum Naturezas, com oito faixas inéditas e duas regravações dos clássicos Tocando em Frente (de Teixeira e Almir Sater) e Mucuripe (de Belchior). A capa foi um dos últimos trabalhos de Elifas Andreato, morto em março deste ano. Em entrevista a VEJA, Renato Teixeira falou da amizade com Fagner e Almir Sater, comentou sobre o sucesso da novela Pantanal e a participação dos filhos Isabel e Chico Teixeira. Ele ainda falou sobre a amizade com Sérgio Reis e disse discordar das posições políticas do cantor. Leia a seguir os principais trechos.
Como foi gravar esse disco com o Fagner? Somos velhos amigos. Gosto de pensar na mistura musical que fizemos. Eu sou caipira, da roça. Ele é nordestino, ligado ao sertão. Isso deu uma boa liga. O resultado é um disco com um calor e uma temperatura muito representativo do Brasil. Era isso que a gente queria. Nós nos entendemos muito bem. Eu gosto do jeito que ele canta e ele é um grande melodista. No álbum, gravamos dez canções, sendo apenas duas regravações. Uma delas é Mucuripe, uma obra-prima de Belchior, brilhantemente gravada por Fagner. A outra é Tocando em Frente, composição minha com Almir Sater, que faz uma participação especial no disco.
Por falar em Almir Sater, ele participa também na canção inédita Para o Nosso Amor Amém. Como é a sua amizade com ele? Somos amigos há mais de 40 anos. Hoje, somos vizinhos. Minha filha mais nova, Antônia, que mora nos Estados Unidos, foi casada com o irmão mais novo dele, o Rodrigo, e tiveram duas filhinhas “Teixeira Sater”, a Bia e a Júlia. São minhas netas e sobrinhas do Almir. É uma coisa familiar. Almir é um grande brasileiro.
O senhor também é amigo de Sérgio Reis. As recentes declarações políticas dele chegaram a abalar a amizade entre vocês? Não. Nós continuamos amigos. Ele tem as posições dele e eu tenho as minhas. A minha posição – e que sempre foi pública – é a de que eu não concordo com e não gosto de ver o Sérgio envolvido com política. Acho que quando ele entra na política, ele divide. Eu sempre falei para ele: “Sérgio, você é um dos grandes nomes da música brasileira e é isso que você tem que fazer da vida”. Eu respeito as posições políticas dele, mas não concordo. Tenho as minhas posições. Não vou ficar de mal com ele por causa disso, não.
Como o senhor tem visto o sucesso da novela Pantanal em resgatar a moda de viola? Temos uma riqueza muito grande de tocadores de viola no Brasil. Alguns são geniais. Outras novelas também ajudaram no passado, como Ana Raio e Zé Trovão e O Rei do Gado. Na minha opinião, a viola está se eternizando e se transformando em um instrumento internacional.
Como foi a experiência de fazer uma participação especial na novela? Eu fui para Piraí, no interior do Rio de Janeiro, para gravar a cena. Mas eu tenho dificuldade em decorar textos ou poesias. Sou bom para cantar, mas declamar texto é mais difícil. Embora minha cena tenha sido curta, eu dei umas gaguejadas. Eu interpretei o Quin, personagem que meu filho também interpretou na novela, só que na primeira fase, mais jovem. Eu interpretei ele mais velho.
Como viu o sucesso da Maria Bruaca em Pantanal, interpretado por sua filha, a Isabel? Desde a primeira versão, a personagem já era maravilhosa e causou impacto. Naquela época, o machismo nem era debatido. Hoje ele é enfrentado. Não só o machismo, como o racismo também. Esse confronto é essencial para que certas injustiças não aconteçam. A Bruaca tem essa função de confrontar o machismo e acender essa chama.
Seu filho, Chico Teixeira participou da primeira fase da novela. Como foi ver outro filho na TV? Ele é músico, né? Ele me disse que não sabia nem como fazer isso. Ele tocou muitos anos na banda comigo. Desde os dez anos de idade ele já estava no palco. Eu disse para ele que não interessa se é palco ou câmera. Ele tem que ir lá e fazer o que o diretor mandar. A Bel (Isabel Teixeira) ajudou muito e deu boas dicas. A principal dela foi: “Seja você mesmo”. Gostei muito da atuação dele.