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O Som e a Fúria

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“Vamos parar em paz”, diz Andreas Kisser, do Sepultura, sobre fim da banda

O guitarrista conversou com VEJA sobre a turnê de despedida e as razões que levaram o grupo a se separar

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 Maio 2024, 18h41 - Publicado em 8 dez 2023, 16h57

Após quarenta anos de estrada, o Sepultura anunciou que vai se separar em 2024 após uma turnê de despedida intitulada Celebrating Life Through Death (Celebrando a vida através da morte, na tradução livre). A primeira e a última frase do comunicado de abertura sugerem as razões do fim. “O Sepultura vai parar. Vai morrer. Uma morte consciente e planejada”, diz o texto, que encerra com: “Eutanásia, o direito a morte digna. Direito de escolha de ser livre quando se nasce e quando se morre!”. A escolha das palavras não foi por acaso. No ano passado, a esposa de Andreas Kisser, Patrícia, com quem ele estava casado há 32 anos, morreu aos 52 anos, de câncer de cólon, depois de um longo e doloroso tratamento. Kisser atravessou esse período difícil sem nenhuma orientação e, desde então, se dedica a quebrar tabus sobre como falar da morte e também sobre eutanásia. Ele lançou, inclusive, o projeto Mãetrícia, movimento que busca discutir uma morte digna.

Andreas Kisser conversou com a reportagem de VEJA logo após a entrevista coletiva onde revelaram os detalhes da turnê de encerramento. No bate-papo, ele contou que não convidou Max e Iggor para a turnê, mas que o palco estará sempre aberto. Ele disse ainda que a morte da esposa pesou na decisão de encerrar a banda. O objetivo agora, segundo ele, é de celebrar a história do grupo e aproveitar cada minuto com os colegas e os fãs.

O Sepultura foi formado em 1984, em Belo Horizonte, pelos irmãos Max e Iggor Cavalera, e pelo baixista Paulo Xisto, mas foi somente após a entrada de Andreas Kisser, em 1987, que o grupo ganhou notoriedade mundial e se tornou a potência que é hoje. Desde 1997, os vocais são ocupados por Derrick Green e a bateria é de Eloy Casagrande. Confira a seguir os principais trechos da entrevista: 

 

A banda Sepultura fará uma turnê de despedida em 2024
A banda Sepultura fará uma turnê de despedida em 2024 (Bob Wolfenson/Divulgação)

O Sepultura está em uma de suas melhores fases da carreira. Por que terminar agora? É justamente por isso que tomamos essa decisão. Vamos parar com consciência, em paz. Conversamos sobre isso há dois anos e organizamos o processo. Não precisamos de álibi, de briga ou que alguém fique muito doente ou velho para terminarmos. O momento é espetacular, é o melhor momento da nossa história. Temos um disco fantástico e estamos preparando outro ao vivo com quarenta músicas em quarenta lugares diferentes. Acho que é um privilégio não sermos vítimas de uma situação para ter que parar. Me sinto muito feliz em poder controlar esse processo. Sabemos muito bem o que estamos fazendo.

Várias bandas clássicas de heavy-metal e rock anunciaram turnês de despedida e depois voltaram atrás. O fim é mesmo para valer? Não estou preocupado com isso. O momento é agora. O que virá depois vemos depois. Eu nunca falo para sempre. Não botamos data limite. Vão ser 18 meses da turnê de despedida, depois vamos dar um tempo. O futuro ninguém sabe. Não é necessário definir isso. Se vamos voltar ou não é outra historia. Queremos celebrar os quarenta anos dessa forma e ver o que acontece.

Após o fim da turnê de despedida, você e os outros integrantes já têm outros planos de carreira solo? Tem de tudo um pouco. Temos projetos solos, bandas paralelas, mas nada específico. Quero exercer essa liberdade e ver o que acontece. Quero celebrar o momento atual com muita intensidade.

Especula-se que o baterista Eloy Casagrande foi convidado para tocar no Slipknot. Como vê essa história? Não presto atenção nisso. Fico honrado que o nome do Eloy sempre apareça. Ele é o melhor baterista do mundo.

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A morte precoce de sua esposa Patrícia, em 2022, pesou na decisão de encerrar a banda? Sim, sem dúvida. Começamos logo depois o Patfest e o Mãetrícia justamente para estimular a discussão no Brasil da eutanásia, suicídio assistido e para preparar as pessoas para o momento da morte. Eu me senti mal preparado em vários aspectos sobre cuidados paliativos e quais são os limites do hospital e dos médicos. Essa turnê é para celebrar a vida por meio da finitude. Todo mundo vai morrer e temos que acabar com esse tabu e falar sobre a morte com as crianças, porque pode acontecer a qualquer momento.

Vocês convidaram Iggor e Max Cavalera para participarem da turnê de despedida? Não. Mas o palco está sempre aberto. É uma característica nossa convidar vários músicos para jams e participações especiais. O espaço do Sepultura está sempre aberto e isso não vai mudar.

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