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Olhares Olímpicos

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Paixão de quem vem de fora

Casos como os dos estrangeiros que tentaram detonar a imagem do Rio na Olimpíada são raros. A regra é encontrar forasteiros deslumbrados pela beleza da cidade e o alto astral dos cariocas

Por Daniel Hessel Teich
Atualizado em 30 jul 2020, 22h04 - Publicado em 19 ago 2016, 18h22

Os nadadores americanos mentirosos, o lacrimoso atleta do salto com vara francês, o jornalista do The New York Times que detonou o biscoito Globo. Esses personagens personificaram durante a Olimpíada o que pode acontecer quando um forasteiro entra em rota de colisão com a peculiar cultura carioca. Os três casos mostram que a arrogância, a ignorância do estilo de vida local e o desrespeito a regras básicas de convivência por aqui  podem ser desastrosos. A notícia boa que se tira dessas histórias exploradas à exaustão no Brasil e no exterior é que se tratam de episódios raros. A regra é que a conjunção das belezas naturais com a simpatia e a descontração dos moradores estabeleça de imediato uma relação de empatia e, nos casos mais arrebatadores, de profunda paixão. E para falar sobre isso, não há ninguém melhor que um forasteiro que adotou o Rio para viver.

Gaúcho de Bento Gonçalves, Marcus Vinicius Freire faz parte da chamada geração de prata do vôlei, a que ganhou a medalha pela segunda colocação nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984. Hoje é diretor executivo de esportes do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e um dos responsáveis pela evolução do treinamento e desempenho dos atletas do chamado Time Brasil. Apaixonado pela cidade, incomodou-se com o severo bombardeio de críticas que seu lar adotivo começou a sofrer antes mesmo dos jogos se iniciarem. Em uma conversa em meados de julho, me contou que havia escrito um texto sobre o assunto citando uma série de cariocas de coração que adotaram a cidade para viver. Como também sou um deles, compartilho.

 

Recentemente fiz uma linda viagem de carro, durante uma hora, da Barra da Tijuca à Urca. Era uma tarde de muito sol e pouco vento. Ouvia no carro meu amigo Martinho da Vila, fluminense de Duas Barras mas vascaíno de paixão e carioca de coração, cantando os versos de Noel Rosa na música Cidade Mulher, com os quais vou enfeitar este meu texto.

Cidade mais bela que um sorriso, notável e inimitável, maior e mais bela que outra qualquer!

Iniciei o trajeto subindo o Elevado do Joá, deixando para trás a Barra da Tijuca do inglês Flávio Canto, medalhista olímpico de judô, e assistindo as águas da Lagoa de Marapendi se encontrarem com o mar. Alguns minutos depois, cheguei à praia de São Conrado e a deliciosa Avenida Niemeyer, sobrenome da paulista Lenny, onde ficar engarrafado é quase um benção de Deus, pois a vista é algo inexplicável de tão formidável.

Cidade de sonho e grandeza que guarda riqueza na terra e no mar.

Cheguei à Praia do Leblon pela delicadeza do Baixo-Bebê, perto de onde você pode saborear as delícias do francês Claude Troisgros. De lá à Praia de Ipanema são apenas umas centenas de metros, com as inúmeras redes do meu vôlei de praia, e das carioquíssimas roupas do gaúcho Oskar Metsavah.

O calçadão de Copacabana estava cheio de apaixonados pelo Rio a caminhar, pois a cidade é protegida pelo trabalho árduo do também gaúcho Mariano Beltrame, nosso secretário de segurança.

Cidade sensível,  irresistível. Cidade do Amor, Cidade Mulher.

Entrando na reta da Praia Vermelha encarei o Pão de Açúcar e no final da primeira curva da Urca topei com o Cristo Redentor, que me fez lembrar do paranaense Emanuel Rego, campeão olímpico do que desliza pelas areias cariocas com muita sutileza.

Girei a cabeça e a beleza da Baia de Guanabara explodiu nos meus olhos desnudando a praia de Botafogo e a reta do Aterro do Flamengo, time defendido pelo paulista Diego Hypólito, medalha de prata e campeão mundial de ginástica.

Cidade padrão de beleza foi a natureza que te protegeu.

Passei então embaixo do prédio da antiga TV Tupi onde também funcionou o Cassino da Urca e, chegando ao Forte São João, tive o direito da optar entre as praias de Dentro e de Fora além de desfrutar da visão da Ponte Rio Niterói e de toda a linda zona costeira de nossa vizinha de Baía, base de lançamento dos velejadores araribóias da família Grael, multi campeões olímpicos da vela.

E para equilibrar, voltei para Barra pela Lagoa Rodrigo de Freitas e não pude deixar de relembrar a maravilhosa Árvore de Natal com status de obra-de-arte do cenógrafo português Abel Gomes.

De amores sem pecado, foi juntinho ao Corcovado que Jesus Cristo nasceu.

O Rio é uma cidade privilegiada, em que um engarrafamento pode proporcionar um desfiles de belezas como aconteceu naquela tarde de inverno. São coisas assim que fazem com que eu me sinta cada vez mais cariúcho (mistura de carioca com gaúcho) e disposto a defender esse lugar incrível, como também o fazem outros tantos cariocas de coração. Com isso ajudamos a zelar para que o Rio, a cidade que escolhemos para viver, também possa ser escolhida por nossos filhos e netos.

 

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