A inscrição do juiz Luiz Antônio Bonat, da 21ª Vara da Justiça Federal do Paraná, primeiro colocado na listagem do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) para assumir os processos da Operação Lava Jato, foi vista com surpresa na comunidade jurídica, já que ele estava afastado da área criminal e vinha atuando em processos previdenciários há cerca de 15 anos.
Bonat fez sua inscrição à vaga aberta com a ida de Sergio Moro para o Ministério da Justiça na noite de segunda-feira (21), horas antes do encerramento do prazo final. Ao colocar seu nome na lista, ele sabia que seria escolhido pois superava todos os demais juízes titulares do TRF4 nos critérios de aprovação: antiguidade na magistratura e, em caso de desempate, melhor colocação no concurso público de entrada na carreira.
O magistrado que ingressou na Justiça Federal em 1993 passou por varas criminais, mas, há pelo menos uma década, vinha atuando com matéria previdenciária. “Para os advogados foi uma surpresa. A categoria trabalhava com outros nomes”, diz uma fonte da seção Paraná da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR) ouvida por VEJA.
“Entre os advogados da área previdenciária ele é visto como trabalhador, correto e sensato. É uma pessoa muito gentil, mas fazia muito tempo que não atuava no criminal”, explica um advogado com clientes na Lava Jato que prefere não se identificar.
Um dos poucos a comentar abertamente a possibilidade de Bonat assumir a Operação Lava Jato, o advogado Antônio Figueiredo Basto diz que a chegada do magistrado seria uma “renovação oportuna e adequada”. “É um juiz com experiência e preparo técnico. Tem personalidade e vai imprimir seu método de trabalho na análise dos processos”, afirma Basto, que firmou diversos acordos de colaboração premiada na Lava Jato, entre eles o do doleiro Alberto Yousseff e o do dono da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa.
Um colega de Bonat na magistratura diz que o juiz é muito bem visto pela categoria. “Firme, mas justo. Corajoso sem ser precipitado. Já foi convocado para atuar no TRF nas férias dos desembargadores diversas vezes.” O juiz diz ainda que entre os pares corria o boato de que Bonat poderia retornar à área criminal, como “último ato da carreira”. “Já se comentava que ele gostava da área apesar de estar afastado e próximo da aposentadoria”, diz.