A novidade da vez são os 12 clubes da Europa criando a Superliga das Campeãs com uma premiação estratosférica. Podiam batizar essa Liga de Clube dos Riquinhos. Acreditem, nessa briga não tem mocinho. Fifa e Uefa abriram a caixa de ferramentas e ameaçaram até chamar o Japonês da Federal caso os rebeldes insistam em seguir em frente com a ideia. Mas eles que se resolvam por lá. A verdade é que o futebol mundial há muitos anos, me perdoem a expressão, é uma zona e esse movimento só está acontecendo por conta dessas guerras políticas e de patrocinadores.
Aqui não é diferente, vejam o histórico de confusões da Conmebol. Esse Mundial de Clubes serve apenas para iludir torcedores e os clubes europeus estão pouco se lixando. Já foi Copa Toyota, depois Santander, passou para Bridgestone e, agora, Conmebol. É bom lembrar que movimentos como esse da Super Liga são totalmente elitistas e lembram o Clube dos 13. Depois não sabem como alguns clubes tradicionais desapareceram do mapa. Por isso, sou fã incondicional dos regionais, muito mais democráticos. Adoro a Copa da França, inglesa e a nossa. Gosto de ver uma Portuguesa jogando bem contra o Flamengo, Boavista encarando o Vasco.
Esse é o verdadeiro papel das federações, não deixar que clubes como Portuguesa Santista e América, por exemplo, quebrem. Mas isso acontece em todas as áreas. Comecei no futebol de salão e volta e meia aparece uma nova federação querendo derrubar a outra. Será que realmente estão preocupadas com a modalidade. Mudam regras, criam regulamentos esdrúxulos e afastam as torcidas. Na minha época, existiam vários clubes de bairro, Magnatas, São Cristóvão Imperial, Grajaú Tênis Clube, Imperial, Minerva, Carioca, Vila Isabel e as quadras viviam lotadas. Aí chega um esperto, um executivo e monta uma federação para caçar níquel, mexer em time que está ganhando.
O que houve com as competições regionais de futebol de salão? Nunca mais surgiram Vevés, Tambas e Sergio Sapos e clubes com uma história riquíssima, como o Vila Isabel, estão sendo demolidos. O mesmo aconteceu com o futebol de praia. Recebi essa foto pelo zap e, confesso, chorei. Foi impactante para mim porque me remeteu a um tempo maravilhoso, carregado de pureza e alegria. É o time do Columbia, o verde e preto do Leblon. Nessa foto, talvez eu já tivesse até sido campeão, não lembro. Pouco importa, seria logo depois.
Nosso campo era entre a Rua Rainha Guilhermina e o final do Leblon. Tínhamos dois técnicos, Aurélio e Seu Edu, e os jogos eram diários, entre nós mesmos, sempre às cinco da tarde. Com um pedaço de carvão, Aurélio escalava titulares e reservas na escada de acesso à areia. As competições atraiam milhares, e eram milhares mesmo, de torcedores. Tinha o Juventus, Real Constant, Maravilha, o Lá Vai Bola, o Lagoa, o Dínamo, Grêmio do Leblon, Copaleme, Radar, Tatuís e tantos outros.
Aí virou beach soccer, a tevê se meteu no meio, criaram uma infinidade de regras, surgiram federações e seus “especialistas” querendo comandar o show e deu no que deu, enterraram todo o encanto. Nessa foto, em pé da esquerda para a direita estão meu irmão Fred, Gilo, que funcionava como goleiro e centroavante, Manoel, habilidade pura, meu primo Ronaldo Luiz, e o lateral Reinaldo, muito veloz e que dificilmente era driblado. Agachados, o centroavante Roberto, o volante Léo Júnior, que chegou a jogar no Flamengo e Vitória, Lauro, cracaço que tentei levar para o Botafogo, Julinho Capenga, que esbanjava categoria, e eu. Caminho sempre pelo Leblon e nunca mais vi times treinando. Com alguns desses craques mantenho contato, mas Julinho Capenga nunca mais vi.
Outro dia me sentei em um banco do calçadão e olhei para o chão. Hoje, os gigantes, os dirigentes glutões, brigam por cotas milionárias e megas patrocinadores, mas não tem verba para ajudar as escolinhas das favelas, cuidar dos campos esburacados dos clubes de menor poder aquisitivo. Saudade de Aurélio e sua pedra de carvão, do futebol de onde vim.
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