As mudanças climáticas não ocorrem em um vácuo social. Quando eventos extremos como chuvas torrenciais e inundações que estamos vendo no Rio Grande do Sul acontecem, suas consequências deixam evidente a desigualdade que permeia nossas cidades, em especial as vilas, favelas e periferias.
A geografia da desigualdade no Brasil fica visível quando olhamos para os desastres naturais. Tome como exemplo as fortes chuvas que devastaram cidades catarinenses em 2008. Deslizamentos e enchentes deixaram mais de cem mortos, e dezenas de milhares de pessoas perderam suas casas. Aqueles que moravam em áreas mais vulneráveis, muitas vezes encostas ou várzeas, foram os mais afetados. Em Joinville, a cidade mais populosa de Santa Catarina, a concentração de famílias de baixa renda em áreas de risco deixou claro como as condições socioeconômicas determinam quem sofre mais nesses eventos.
Não foi diferente no Recife, na periferia e no litoral norte de São Paulo, ou mais recentemente no Rio de Janeiro, onde chuvas intensas também resultaram em mortes e desabrigados nos últimos anos. As pessoas em áreas de encosta, em moradias informais, têm poucas alternativas seguras e carecem de acesso a recursos que lhes permitiriam evacuar com segurança. Coincidência? Obviamente que não. Exatamente por isso, nos últimos anos, tem crescido o conceito de “justiça climática”.
Justiça climática é um conceito que reconhece que as mudanças climáticas não afetam todas as pessoas de forma igual, destacando que os grupos mais vulneráveis — muitas vezes os que menos contribuíram para o problema — sofrem desproporcionalmente os impactos ambientais, sociais e econômicos das alterações no clima. A ideia de justiça climática busca conectar os direitos humanos e a equidade social às questões ambientais, enfatizando que as políticas climáticas devem levar em conta as disparidades regionais, econômicas e sociais.
Iniciativas de justiça climática, lideradas por governos locais e organizações civis, vêm crescendo. As tragédias cada vez mais frequentes descredibilizam os “negacionistas do clima”, aumentando a pressão sobre governos e instituições.
A questão central é que, para que os efeitos devastadores das mudanças climáticas sejam mitigados, é preciso enfrentar de frente as desigualdades que definem quem sofre mais nessas tragédias. Isso inclui garantir o acesso a moradias dignas, proteger os territórios vulneráveis e ampliar os recursos para que os grupos mais impactados possam se preparar e se recuperar de forma justa. Afinal, não se pode falar de justiça climática sem falar de justiça social.