Mais um aviso da iminência do apocalipse neoliberal paulistano prometido para 2017 foi anunciado esta semana pela colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo. O pernambucano Romero Britto vai pintar o retrato do prefeito eleito da cidade. Tá, mas e daí?
Daí que para os bronqueados de plantão – fiéis dos Santos dos Últimos Dias, tensos das redes sociais, politicamente estressados e artistas de ocupação – encararam a notícia como flagelo dos deuses para a cultura nativa e merecido castigo para o políti… ooops, empresário.
OK, entendo tudo mas, convenhamos, o sr. Britto não é um artista. Trata-se de um hábil e prolífico ilustrador – seu traço alegrinho cor de Bala Chita aparece estampado no maior número possível de superfícies com alta visibilidade e rentabilidade. É um profissional bem-sucedido que faz dinheiro. Muito dinheiro.
No entanto, ele habita a persona de artista plástico pop high profile, circulando por Miami, onde vive, e retratando ricos e famosos em pinturas estacionadas entre o cartum e o brega. Entre outros, homenageou Madonna, Arnold Schwarzenegger, Michael Jackson e Bill Clinton em suas telas. Sim, o rascunho de um genérico tropical de Andy Warhol até vem à mente, mas se esvai rapidinho. Britto gosta de pintar gatinhos.
Bom lembrar que ele também presenteou a presidenta Dilma com um retrato (ou seria “retrata”?) e ambos posaram para foto ao lado da obra. Melhor não comentar o resultado e ferir suscetibilidades à flor da pele. Digamos apenas que ficou alegórico, vistoso. E o governo não caiu por causa dele.
Por isso, pouco importa que cara vai ter o prefeito João Doria by Romero Britto. Com certeza não escurecerá a face do Sol nem vai afetar o trânsito dos astros nos próximos quatro anos. Deve, isso sim, render piadas dos gaiatos de plantão e o deboche óbvio da claque raivosa rangendo dentes. Nada mais.
Só sei que eu não gostaria de ter meu retrato pintado por Romero Britto. Prefiro muito mais um alto kitsch. Por isso, se eu pudesse e o meu dinheiro desse, procuraria os préstimos de Roberto Camasmie. Não conhece? Dá um Google. Há décadas Camasmie se dedica a retratar a fina flor da sociedade paulistana em desenhos e pinturas de narrativa poética simplesmente inenarráveis.
Como se costuma dizer, podemos até recusar ou vetar uma fotografia, porém a caricatura é sempre inevitável.