A economia ocupa uma posição central no discurso governo, com a grande expectativa para a apresentação de uma reforma tributária em abril, como prometido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A necessidade de uma revisão ampla de tributos e da criação de uma nova regra fiscal, em substituição ao teto de gastos, é consenso entre o Executivo e a grande maioria dos parlamentares empossados nesta semana. Entretanto, questões de caráter revisionista, como a reavaliação da autonomia do Banco Central (BC), sinalizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista recente, e as mudanças propostas para o Conselho de Administração de Recursos Fiscais, o Carf, são pontos de desalinhamento entre os Poderes e não devem prosperar, segundo parlamentares ouvidos pelo Radar Econômico.
Apesar dos candidatos apoiados pelo governo às presidências da Câmara dos Deputados e do Senado terem saído vitoriosos de suas disputas, Lula não deve ter “uma vida fácil” com o Congresso, conta um deputado do Centrão. “Há boa vontade para aprovar uma reforma tributária e uma nova regra fiscal, com a discussão sendo sobre o desenho. Já a questão do Carf gera uma resistência acentuada com o chamado Centrão, enquanto a autonomia do BC me parece uma matéria superada”, diz. É reforçada a ideia de que a disposição da maioria dos parlamentares, com exceção de bolsonaristas, em contribuir para a pacificação política do país depois dos ataques de oito de janeiro não significa dar carta branca à agenda de Lula.
Por outro lado, a expressividade da votação de Arthur Lira (PP-AL) à presidência da Câmara o faz permanecer na condição de “primeiro-ministro informal”, na avaliação de outro deputado, enquanto a eleição para o comando do Senado mostrou a força nada desprezível da oposição. “Mesmo com a distribuição de cargos feita por Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Rogério Marinho (PL-RN) mostrou força, logo haverá muita negociação no Senado”, diz o parlamentar do Centrão. “Pode haver boa vontade de Lira com certas medidas de Lula, mas é inimaginável revisar algo como a autonomia do BC, uma das questões mais importantes dos últimos anos. Não tem como essas propostas revisionistas prosperarem”, complementa.
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