A diretora-executiva do Goldman Sachs e co-fundadora do grupo Mulheres do Mercado, Carolina Ragazzi, conversou, na semana passada, por mais de uma hora com a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, em São Paulo. A rede já reúne cerca de uma centena de executivas e enviou um relatório de quase 70 páginas com contribuições para o Plano Plurianual participativo, promessa de campanha de Lula que Tebet coordenou ao longo de 2023.
“A primeira reunião com o Ministério foi em março deste ano, e a gente se colocou como uma iniciativa da sociedade civil para fomentar ideias para o governo implementar nas políticas públicas”, contou Ragazzi ao Radar.
Uma das medidas sugeridas pelo grupo virou proposta de lei e foi aprovada em agosto na Câmara dos Deputados. O texto de autoria de Tabata Amaral (PSB-SP) reserva a mulheres 30% das vagas de conselhos de administração de empresas públicas e de economia mista.
“O mínimo de representatividade para que a opinião de uma minoria seja efetivamente considerada é de 30% — portanto esse deve ser o mínimo a ser perseguido para que daí organicamente possamos atingir uma equidade plena”, diz o documento encaminhado pelo grupo Mulheres do Mercado como reivindicação no plano orçamentário.
Para Carolina, não só as quotas progressivas são importantes no projeto aprovado na Câmara, mas uma série de obrigações de transparência sobre a participação feminina que as empresas públicas terão de adotar. Dessa forma, os dados poderão ser acompanhados pela sociedade civil.
“Isso é na ótica de empresas públicas e de participação mista, o que se espera agora é que a gente consiga, por meio de uma pressão social e moral, que as empresas adotem essas melhores práticas. Tem um compasso na adoção dessas medidas, entre o público e o privado”, afirmou a executiva.
Ragazzi ainda disse que, para as mulheres atingirem com mais frequência cargos de liderança no mercado de trabalho, é necessária uma reestruturação desde a educação básica, também para os meninos. Na avaliação dela, de nada adianta a qualificação profissional de mulheres, se os homens não forem ensinados a cuidar de crianças e idosos.
“É necessário uma agenda transversal porque você tem que começar a atacar desde a educação na primeira infância com a revisão do conteúdo programático para estimular as meninas a atividades mais lógicas e competitivas e influenciar os meninos a desenvolver o cuidado e a empatia”, argumentou.
Creche em tempo integral, abertura de casas para cuidar de idosos e licença paternidade estipulada em lei, são outras propostas enviadas ao PPA.
“A não adesão à licença-paternidade, seja pela legislação, seja pela cultura corporativa, prejudica mulheres em duas frentes: profissionalmente, oportunidades de negócios e projetos são direcionadas àqueles percebidos por estarem trabalhando 100% de sua capacidade”, escreveu a entidade nas reivindicações enviadas ao Ministério.
A fiscalização do cumprimento do Plano Plurianual, na visão de Carolina, deve ser facilitada pois outros ministérios entraram como co autores da proposta, o que aumenta a responsabilidade de todo o governo, e foram definidas metas.
“Hoje, o PPA tem metas bem objetivas, de números mesmo, por exemplo, o ministro do Trabalho se comprometeu com metas de percentual de desemprego, ano a ano. Então, são métricas, não é qualitativo que é mais difícil de julgar”, projetou.
O Plano Plurianual participativo foi resultado de 27 plenárias regionais, além de contribuições da sociedade civil, como do Mulheres do Mercado. O texto, com 88 diretrizes, foi entregue ao Congresso Nacional em setembro.