Mesmo passados pouco mais de três anos, a ruptura da barragem da Vale na cidade de Brumadinho (MG) ainda gera comoção na sociedade brasileira. E é justamente as histórias que cercam uma das maiores tragédias do país que estão no centro do recém-lançado documentário Lama Seca, disponível no Vivo Play e na Claro TV.
Filmado de forma independente e com baixo orçamento, a obra marca a estreia da agência paulista Quartetto nesse gênero do cinema e tem como diretores os jornalistas Juliana Ribeiro e Eduardo Savanachi e o fotógrafo e diretor de fotografia Murillo Constantino.
As filmagens aconteceram ao longo de 2019, acompanhando praticamente todo o primeiro ano após o acidente. A equipe entrevistou sobreviventes, moradores da cidade e, principalmente, familiares das vítimas da tragédia. Em um cenário de tristeza e revolta, o documentário aborda os impactos da queda da barragem, que se tornou um marco na história de Brumadinho, afetando diversos aspectos da vida de seus habitantes, desde um sombrio luto coletivo, passando pela angústia da espera pelo resgate dos desaparecidos até os reflexos das mudanças na infraestrutura e características do município. Como pano de fundo, a indignação generalizada com a forma que a mineradora Vale lidava com a situação.
Um dos principais registros da obra é o início da relação entre bombeiros e moradores da cidade, que deu origem a uma das principais operações de resgate da história do Brasil, ainda hoje em andamento. “Buscamos desenvolver um filme com olhar humanizado, longe da frieza dos números e com depoimentos intensos e emocionantes. A ideia era dar rosto e voz aos atingidos por uma das maiores tragédias do país”, explica a diretora Juliana Ribeiro, que também foi responsável pela produção executiva e reportagens do projeto.
“Trata-se de um filme que propõe uma discussão que vai além das causas e culpas, e que se concentra em mostrar a vida das pessoas e o real significado de um acontecimento que causou a morte de 270 pessoas, algumas cujos corpos até hoje não foram encontrados”, complementa Eduardo Savanachi, que assina o roteiro final do documentário.
A fotografia teve um papel de destaque na produção. O filme traz imagens inéditas das estruturas onde funcionavam os escritórios e o refeitório da Vale atingidas pela lama e das áreas de buscas que dão uma nova dimensão sobre o alcance do desastre. Além disso, entra na casa das famílias que tiveram suas “jóias” (forma como os moradores se referem às vítimas) perdidas, mostrando quem eram aquelas pessoas.
“A ideia era levar o espectador para dentro da vida em Brumadinho, naquele momento complicado de dor e revolta, para mostrar esse processo difícil de recuperação. As imagens têm um papel fundamental para registrar e, principalmente, sensibilizar a sociedade para que coisas assim não voltem a acontecer”, ressalta o diretor de fotografia Murillo Constantino.
https://www.youtube.com/watch?v=7Wjj16ohoD4&t=9s