O Brasil registrou no ano passado 141 000 picadas de escorpião. A maioria delas ocorreu nas zonas urbanas. O número representa um aumento de 13% em relação a 2017. Quando se compara a atual quantidade de casos com a de uma década atrás, o salto é de espantosos 169%. O alerta fez com o que o Ministério da Saúde e o Instituto Butantan, de São Paulo, firmassem uma parceria para orientar profissionais de saúde pública e prefeituras do país sobre como evitar a proliferação do aracnídeo. O aumento no número de picadas é resultado de uma velha combinação de fatores: expansão desordenada da população das grandes cidades, acúmulo de lixo, entulhos e saneamento básico precário. Diz Benedito Barraviera, coordenador do Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu: “O escorpião é um dos animais que mais se adaptam aos centros urbanos porque ele se alimenta e se esconde facilmente nos esgotos”. A seguir, as principais dúvidas sobre o tema.
Como saber se o escorpião é perigoso? Das 160 espécies de escorpião encontradas no Brasil, apenas dez causam envenenamento grave em seres humanos. E justamente os mais comuns estão nesse pequeno grupo perigoso. São animais com cerca de 7 centímetros de comprimento. O Tityus serrulatus, conhecido como escorpião-amarelo, é o mais venenoso e prevalente de todos. Ele é encontrado em especial nas áreas urbanas do Centro-Oeste, Sudeste, Sul e Nordeste. O Tityus bahiensis, ou escorpião-marrom, tem coloração marrom-avermelhada e é mais comum nas regiões rurais do Sul e Sudeste. O Tityus stigmurus, ou escorpião-do-nordeste, tem o corpo amarelado e uma faixa escura e longitudinal nas costas. Está presente nas regiões urbanas e rurais do Nordeste. Por último, o Tityus obscurus, ou escorpião-preto-da-amazônia, todo preto, é o único restrito a áreas de florestas. Só é encontrado na Região Norte e em Mato Grosso.
Como reconhecer a picada de um escorpião? Ela causa dor local, intensa e imediata. A sensação é de queimação, agulhada e latejamento. Algumas vezes a dor pode irradiar para todo o membro afetado. As picadas são mais comuns nas mãos e nos pés.
O que fazer na eventualidade de uma picada? A recomendação médica é limpar o local com água e sabão e procurar um hospital rapidamente. Nunca faça torniquete (isso altera a circulação do veneno no corpo). Compressas com gelo ou água gelada também não são indicadas porque costumam acentuar a sensação dolorosa. O ideal é tirar uma foto do animal ou, se possível, capturá-lo e levá-lo para que os médicos saibam como proceder, a depender do tipo.
Qual é o tratamento? Na maioria dos casos, os sintomas se limitam a dor intensa. O tratamento consiste na aplicação de analgésicos injetáveis para aplacar a dor. Se o escorpião é peçonhento, o paciente tem vômitos, suor forte e queda de pressão drástica. Esses sinais costumam aparecer nas primeiras duas horas depois da picada. Afora o surgimento desses sintomas, é muito difícil saber se o escorpião é perigoso sem uma foto do animal para ser apresentada no hospital. De qualquer maneira, o paciente permanece internado, em observação, por cerca de doze horas. Nos casos moderados e graves, aplica-se soro antiescorpiônico de forma endovenosa.
A picada do escorpião pode matar? O risco de morte é de 0,07%. É baixo, mas a vítima necessita buscar ajuda o mais rápido possível, nas primeiras três horas — a picada pode causar uma série de sintomas graves. Em cerca de 10% dos casos, o veneno pode afetar seriamente o sistema nervoso central, provocando arritmias, oscilação drástica da pressão, suor constante e abundante, diarreias fortes, acúmulo de fluidos dos pulmões e confusão mental. Devidamente tratados, esses sintomas tendem a desaparecer. As reações são ainda mais agressivas nas crianças de até 10 anos (elas têm menos sangue circulante para diluir as toxinas do animal) e em idosos, por causa do sistema imunológico mais debilitado. Nesses casos, o paciente costuma receber soro como primeira conduta médica, para não haver nenhum risco, independentemente da gravidade da picada.
É mais comum o escorpião viver no campo ou nas cidades? O hábitat do animal é o mato e a região de florestas. Entretanto, a redução dessas áreas e a forte adaptação dos escorpiões às cidades fizeram com que a maioria dos acidentes nos últimos anos ocorresse nos centros urbanos.
Onde os escorpiões costumam ficar nas cidades? Eles são animais noturnos e, durante o dia, procuram lugares escuros e úmidos para se proteger. Picam tanto de dia quanto de noite. A diferença é que à noite eles circulam para se alimentar de insetos e de dia ficam escondidos. Os locais prediletos nas ruas são: pilhas de entulho, lixões e esgoto. Dentro de casa eles se escondem em ralos de cozinha, sapatos, armários, gavetas, toalhas e lençóis enrolados, frestas e vãos nas paredes, rodapés, assoalhos soltos, forros de madeira, batentes de portas e de janelas, caixas e pontos de energia, sistema de refrigeração de ar, vigas e telhados.
O que fazer ao encontrar um escorpião em casa? Ele não salta nem procura o alvo para picar, e só ataca quando alguém esbarra nele. Prenda o animal em um pote de vidro com tampa ou mate-o. Se possível, avise a Vigilância Sanitária — para que os agentes de saúde possam tanto identificar o tipo de escorpião quanto rastrear uma possível infestação. O escorpião-amarelo, o mais incidente nas áreas urbanas, tem uma característica especial. É sempre uma fêmea. Os óvulos se dividem sem a fecundação com os espermatozoides. Há, portanto, maior proliferação. A fêmea se reproduz de duas a três vezes por ano e pode gerar até trinta embriões por vez. Em duas semanas os animais se tornam independentes e passam a circular. Ou seja, o risco de infestação é sempre alto.
Como evitar a entrada de um escorpião em casa? Mantenha terrenos baldios, o quintal e a casa sempre limpos, a grama baixa, e evite acúmulo de lixo. Coloque tela nos ralos, pias, portas e janelas e protetores nas portas. Bata os sapatos antes de calçá-los, evite a presença de baratas e outros insetos em casa, vede frestas e limpe regularmente atrás de móveis, cortinas, quadros e cantos.
Publicado em VEJA de 6 de fevereiro de 2019, edição nº 2620
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