Lula tira Tarcísio para dançar e estimula guerra na direita
Petista trata governador paulista como adversário em 2026, antecipando as brigas em torno do espólio político de Jair Bolsonaro

Em fevereiro de 2024, depois de Tarcísio de Freitas confraternizar com Lula num evento em São Paulo, Jair Bolsonaro tratou o governador paulista como um integrante de sua família. “Tarcísio é meu irmão”, disse o ex-mandatário, afastando atritos com o aliado por interagir com o inimigo.
As mensagens de Eduardo Bolsonaro encontradas pela Polícia Federal no celular do pai mostraram como o clã se dividiu em relação ao governador de São Paulo. Chamado de “irmão” em público, o governador de São Paulo foi tratado como oportunista e ingrato por Eduardo nas mensagens ao pai: “Tarcísio nunca te ajudou em nada no STF. Sempre esteve de braço cruzado vendo você se f… e se aquecendo para 2026”, disse.
Vendo como Tarcísio divide o clã, o presidente Lula decidiu tirar o governador paulista para dançar. Nos últimos dias, o petista tratou abertamente o “irmão” de Bolsonaro como presidenciável e adversário a ser batido em 2026. Além de colocar o ex-capitão no passado, o petista espera, com o gesto, expor Tarcísio a novos ataques de Eduardo Bolsonaro — que sonha em herdar o espólio do pai.
Lula sabe que a ficha começou a cair para os adversários na direita. Bolsonaro, o nome capaz de mobilizar o eleitorado, está preso, privado do debate público — e digital — e banido, portanto, do jogo eleitoral. Eduardo, por mais que fale em candidatura, virou apenas um fantasma barulhento nos Estados Unidos. Não pode pisar no Brasil, sob pena de ser preso por tramar contra o STF e o próprio país. A guerra para ocupar o espaço do capitão será sangrenta — e já começou.
Na visão de um cacique bolsonarista, ao promover Tarcísio a adversário, Lula expõe o rival, que vinha jogando na sombra, e coloca um alvo nas costas do governador — que tende a ser defendido pela ala mais pragmática da direita e atacado com força pelo bolsonarismo mais radical e fiel ao clã.
“Lula tenta pintar Tarcísio como pretendente da viúva, o amigo ingrato. Isso em pleno velório político de Bolsonaro. Espera que o Eduardo toque fogo no circo, atacando Tarcísio como alguém que trai o pai dele”, diz um aliado do capitão, sob anonimato.
Além de lançar os leões bolsonaristas contra Tarcísio, Lula mostra aos apoiadores do governador paulista que não teme o adversário e que está, sim, chamando para a briga.
Lula sabe que o momento é o pior possível para falar em candidatos na direita, já que Bolsonaro será julgado pelo STF nos próximos dias e ainda não decidiu quem será o ungido para representá-lo nas urnas. “Qualquer nome que se consolide agora, será atacado na direita”, diz o mesmo bolsonarista.
Flertar com uma disputa eleitoral com Tarcísio — um nome realmente competitivo — é uma dança arriscada para Lula, mas, com a direita perdida e ainda refém de Bolsonaro, quem conduz a valsa, no momento, é mesmo o petista.