Sem alarde, o tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior prestou um longo depoimento à PF na semana passada sobre a trama golpista para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder após a vitória de Lula nas urnas.
A oitiva do ex-comandante da Aeronáutica no governo Bolsonaro deixou os investigadores animados com o que ele revelou. “Vem mais operação por aí”, diz um deles.
O ex-chefe da FAB não foi alvo da recente operação deflagrada pela PF por ordem de Alexandre de Moraes. Na decisão, o ministro registrou que ele foi chamado de “traidor da pátria” pelo general Braga Netto, que orientou um militar aliado de Bolsonaro a atacá-lo por não topar o golpe — em mensagens de WhatsApp.
O relatório sobre a investigação destacou, no entanto, que Baptista Jr e os então comandantes do Exército e da Marinha assinaram uma nota em novembro de 2022, reputada como importante por Mauro Cid para manter e intensificar manifestações antidemocráticas, “em vista do suposto respaldo das Forças Armadas ao movimento”.
Na ocasião, dias depois de ser derrotado nas urnas, Bolsonaro convocou os três para uma reunião, onde discutiram as manifestações de bolsonaristas em frente aos quartéis convocando uma intervenção militar no país. Na sequência, eles divulgaram um documento no qual reafirmaram seu “compromisso irrestrito e inabalável com o povo brasileiro” e defenderam o direito “à livre manifestação do pensamento”.
Recados públicos
Na reserva desde o começo do governo Lula, o brigadeiro publicou uma mensagem provocadora no X um dia depois da operação que mirou Bolsonaro e alguns militares graúdos: “A ambição derrota o caráter dos fracos. Aliás… revela”.
“Já tendo passado dos 60 anos, não tenho mais o direito de me iludir com o ser humano, nem mesmo aqueles que julgava amigos e foram derrotados pelas suas ambições”, complementou Baptista Jr, provavelmente em resposta aos ataques de Braga Netto contra ele nos bastidores.
No último domingo, já depois de depor à PF, o ex-comandante da Força Aérea Brasileira comentou uma coluna publicada no Estadão pelo professor Carlos Pereira, intitulada “Resistência ao golpe de Bolsonaro é consequência de restrições institucionais da democracia”.
“Caro professor, Compartilho com o princípio de que a fortaleza (e restrições) das instituições impeçam ideias golpistas. Lamento que, em seu último parágrafo, o compromisso dos comandantes militares com a legalidade tenha sido desconsiderado. Cumpro as leis porque é o certo!”, escreveu Baptista Jr.
No texto comentado pelo brigadeiro, Pereira concluiu que “a não adesão de alguns comandantes militares ao golpe é, portanto, consequência direta dessas restrições institucionais da democracia brasileira na qual eles estão inseridos”.