O retorno do Congresso aos trabalhos nesta semana marca o início da agonia de Jair Bolsonaro, um presidente sem partido. No Parlamento, os partidos ainda são os únicos canais de participação na vida orgânica da Câmara e do Senado.
Sem uma sigla formalmente constituída – o Aliança Pelo Brasil ainda caminha em busca de apoios para ser constituído –, Bolsonaro não tem uma tropa habilitada a tomar posições importantes em comissões e nas votações para defender as causas do governo.
Essa fragilidade abre um flanco importante para os partidos do chamado “centrão”, que vivem de pequenos achaques diários em ministérios e estatais. Pode-se listar muitos erros do PT nos seus quase quinze anos de permanência no Planalto, mas tanto Lula quanto Dilma Rousseff tiveram um partido forte no Congresso.
O PT atuou dividido no Parlamento em muitos momentos, é verdade. O centralismo democrático petista, no entanto, fazia com que, no final do debate, a parte perdedora abraçasse a tese vitoriosa e defendesse o Planalto dos ataques da oposição nas tribunas da Câmara e do Senado.
É exatamente esse rombo na retaguarda do governo que fragilizará Bolsonaro em um ano curto e crucial para reformas. O bolsonarismo no Congresso é hoje uma tropa sem identidade, com deputados preocupados com projetos pessoais, com lives e selfies pessoais, sem liderança nem voz de comando para priorizar temas do governo.
O presidente tem uma relação de altos e baixos com Rodrigo Maia e com Davi Alcolumbre. Sem um partido estabelecido para angariar apoios, dependerá dos dois chefes do Legislativo para fazer avançar sua agenda.
No primeiro ano de governo, Bolsonaro viveu dias difíceis na articulação política com o Parlamento. Sem o ímpeto de Lula para cortejar parlamentares, o presidente perdeu seguidas votações, teve decisões e vetos derrubados e só conseguiu prevalecer nos momentos em que autorizou a abertura do cofre ou quando a agenda do governo coincidiu com a do Congresso.
Para um presidente eleito a partir do discurso da nova política, não deixa de ser irônico que o dinheiro das emendas tenha sido o melhor instrumento de “negociação” com deputados e senadores até aqui.
Tanto que Bolsonaro e Maia entraram na mira do Ministério Público Federal por supostamente desvirtuar a votação da reforma da Previdência, a partir da liberação de caixa nos dias que antecederam e sucederam a votação.
Se Maia e Alcolumbre toparem assumir a função de líder informal do governo, Bolsonaro conseguirá vencer algumas votações. Sem uma bancada estabelecida para defender suas bandeiras, porém, ficará refém do balcão de negócios do Parlamento.