Vídeo de reunião de Bolsonaro com ataques ao TSE foi achado na casa de Cid
Em julho de 2022, o então presidente deu ordem para todos os ministros de seu governo difundirem mentiras sobre fraudes nas eleições contra Lula
Um dos elementos que embasou a investigação da Polícia Federal sobre a armação de um golpe bolsonarista e desencadeou a megaoperação desta quinta-feira foi um vídeo de uma reunião comandada por Jair Bolsonaro em 5 de julho de 2022, que a corporação encontrou em um computador apreendido na casa do ex-ajudante de ordens Mauro Cid.
Ao se referir a essa parte da apuração da PF, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, escreve em sua decisão que o então presidente da República exigiu, na reunião gravada em vídeo, que seus ministros – “em total desvio de finalidade das funções do cargo – deveriam promover e replicar, em cada uma de suas respectivas áreas, todas as desinformações e notícias fraudulentas quanto à lisura do sistema de votação, com uso da estrutura do Estado brasileiro para fins ilícitos e dissociados do interesse público”.
De acordo com a transcrição que a PF fez da fala de Bolsonaro na reunião, o então presidente disse: “Daqui pra frente quero que todo ministro fale o que eu vou falar aqui, e vou mostrar. Se o ministro não quiser falar ele vai vim falar para mim porque que ele não quer falar. Se apresentar onde eu estou errado eu topo. Agora, se não tiver argumento pra me ti… demover do que eu vou mostrar, não vou querer papo com esse ministro. Tá no lugar errado. Se tá achando que eu vou ter 70% dos votos e vou ganhar como ganhei em 2018, e vou provar <como que eu ganhei>, o cara tá no lugar errado”.
O então ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, falou na sequência. A PF apontou que ele aderiu e participou “de atos antidemocráticos e golpistas” ao ressaltar “a necessidade dos presentes em propagar as informações falsas quanto a fraudes e vulnerabilidades no sistema eletrônico de votação”. Torres também alardeou, superficialmente e sem provas, “a velha relação do PT com o PCC”.
Walter Braga Netto também faz sua intervenção: “Senhores, só observar que saiu uma notícia agora dizendo… O Fachin dizendo que auditoria não muda resultado de eleição. Não sei se os senhores já viram isso”. Na sequência, Torres completa: “Depois que der merda não muda nada não”.
Então ministro da Defesa, o general Paulo Sérgio Nogueira demonstrou, segundo a PF, que tratava o TSE como um inimigo, ao usar linguagem militar para descrever sua estratégia: “O que eu sinto nesse momento é apenas na linha de contato com o inimigo. Ou seja … na guerra a gente … linha de contato, linha de partida. Eu vou romper aqui e iniciar minha operação. Eu vejo as Forças Armadas e o Ministério da Defesa nessa linha de contato. Nós temos que intensificar e ajudar nesse sentido pra que a gente não fique sozinhos no processo”.
Ainda de acordo com a investigação da PF, a fala de Nogueira na reunião confirma que a atuação das Forças Armadas sob o pretexto de “garantir transparência, segurança, condições de auditoria” nas eleições tinha, na verdade, a finalidade de reeleger Bolsonaro.
“Pra encerrar… senhor Presidente eu estou realizando reuniões com os Comandantes de Força quase que semanalmente. Esse cenário, nós estudamos, nós trabalhamos. Nós temos reuniões pela frente, decisivas pra gente ver o que pode ser feito; que ações poderão ser tomadas pra que a gente possa ter transparência, segurança, condições de auditoria e que as eleições se transcorram da forma como a gente sonha! E o senhor, com o que a gente vê no dia a dia, tenhamos o êxito de reelegê-lo e esse é o desejo de todos nós”, disse o general.