Criada pelo escritor Nelson Rodrigues, a expressão “complexo de vira-lata” definiu o derrotismo compulsivo do brasileiro. Essa mania teve o pontapé inicial com o inesperado fracasso do escrete canarinho na final da Copa de 50 no Maracanã e se perenizou de vez na alma do país, nas mais diferentes áreas. Em linhas gerais, o que é bom e vitorioso, vem de fora. Assim, profissionais estrangeiros sempre largaram com vantagem por aqui, em detrimento do produto nacional, numa desvalorização da criatividade e do trabalho local. A regra cria uma série de distorções. No cinema, qualquer abacaxi hollywoodiano costumava ganhar mais espaço por aqui. Nossa rica culinária regional tem menos status do que um prato com sotaque francês. Na moda, qualquer costureiro italiano é recebido com tapete vermelho.
O mercado imobiliário, no entanto, felizmente, vai na contramão. Quem anda pelas ruas das principais capitais do Brasil tem se dado conta de uma mudança na arquitetura dos edifícios residenciais. Tudo indica que não há espaço para o complexo de vira-latas no mercado imobiliário. No lugar de referências datadas e importadas, como fachadas no estilo neo-clássico, com colunas romanas nos prédios, muito presentes por aqui nos anos 90, predominam hoje traços mais humanizados, naturais e alinhados com o cenário. Elementos como a madeira, o verde, o concreto e o vidro se combinam, de forma harmoniosa.
Um dos fatores que manteve os arquitetos brasileiros valorizados foi o custo da importação da grife. Trazer um nome estrangeiro dessa área tem um custo alto e, muitas vezes, ele chega aqui sem o olhar do profissional local, que sabe interpretar com propriedade e alma a demanda do público nacional, com todas as suas particularidades. Chegou-se à conclusão que era muito melhor investir em um arquiteto brasileiro, dando mais liberdade criativa e ele. Fechou a conta para os incorporadores e também para os clientes, que veem muito mais valor hoje em trabalhos assinados em português. A percepção geral é a que os projetos ganharam mais identidade com o cenário local, deixando de soar como uma imitação de segunda linha do que faz sucesso lá fora. Para se ter uma ideia, até prédios celebrados em Miami que levam assinatura de grandes marcas como Porsche, Armani e Fendi, não encontraram mercado no Brasil, salvo se o negócio estiver sendo feito em parceria com algum escritório brasileiro, que possa traduzir as expectativas dos clientes locais, tropicalizando os conceitos.
Quem estão assinando esses projetos que fazem sucesso atualmente no nosso mercado são grandes profissionais nacionais, numa espécie de resgate do que produzimos de melhor por aqui em termos de arquitetura no passado. Ressurgiu com força o modernismo brasileiro, com raízes na década de 60, trazendo de volta linhas e lembranças que remontam a grandes nomes como Paulo Mendes da Rocha, Niemeyer e Lucio Costa.
Junto aos grandes nomes do modernismo brasileiro como Isay Weinfeld, Paulo Jacobsen ou Marcio Kogan, o escritório paulista FGMF tem liderado esse resgaste dos materiais e da criatividade nacional em assinaturas de casas e prédios residenciais, com maestria. Como os sócios do escritório são jovens arquitetos, a sinergia vai de encontro aos também jovens investidores do mercado imobiliário, que estão à frente das grandes incorporadoras. Graças a essa união de forças, as expectativas dos clientes acabam sendo superadas, à base de propostas mais ousadas e capazes de quebrar paradigmas.
Além disso, arquitetos mais modernos, como os do escritório FGMF, estão mais atualizados com os códigos dos clientes e alinhados com as práticas de ESG (do inglês Environmental, Social e Governance), essenciais para as empresas da atualidade. Eles conseguem adequar sua criatividade aos pilares de sustentabilidade, biofilia e cuidados sociais, sem perder a beleza e inovação. Quem ganha somos nós, com cidades muito mais bonitas e modernas, sem espaço na arquitetura para qualquer complexo de vira-latas na forma de estrangeirismos sem sentido.