Sumiço de jiboia de estimação gera alerta em condomínio de luxo em SP
Segundo relato do proprietário do pet, a cobra de 1,5 metro pode ter escapulido do apartamento esgueirando-se pelo vaso sanitário de um dos banheiros
Alguns grupos de WhatsApp ficaram bem animados nos últimos dias por causa de uma história inusitada: uma jiboia de um 1,5 metro de comprimento escapuliu do apartamento onde era legalmente criada pelo proprietário do endereço. Segundo ele relatou, a cobra pode ter fugido por um dos banheiros da propriedade, mergulhando no vaso sanitário. “Assim sendo, há grande possibilidade que tenha escoado pelo esgoto”, informou o síndico do prédio, em comunicado endereçado aos moradores, cujo texto termina tentando acalmar os ânimos dos vizinhos. “Não há razão para pânico, pois a cobra não é peçonhenta (venenosa)”, garante o aviso. O que deixa essa notícia ainda mais impressionante é o local do condomínio, um dos mais caros e imponentes da cidade de São Paulo, o Parque Cidade Jardim. Ali, a cotação dos apartamentos começa em torno de 9 milhões de reais e pode chegar a 70 milhões de reais.
Independentemente do padrão de um condomínio, todos os prédios estão sujeitos a problemas surpreendentes e situações adversas. Após a pandemia, o número de conflitos entre moradores chegou a triplicar. Com a imposição de lockdown e tudo que o isolamento trouxe, alguns dos problemas que já existiam ganharam uma escala inédita. Os ânimos se exaltaram e as reclamações se multiplicaram. Ainda hoje vivemos o reflexo dessa convivência forçada. Num primeiro momento, muitos vizinhos, compartilhando a angústia da incerteza da pandemia, estreitaram laços de amizade e solidariedade. Porém, com a flexibilização de saída e de volta à vida normal, as brigas cresceram mais de 300% de acordo com a Associação das Administradoras de Bens e Imóveis e Condomínios de São Paulo (AABIC). A realidade do home office pode ter sido uma das razões para esse crescimento, já que muitas pessoas passaram a ficar em casa mais tempo e em horários diferentes do que ocorria anteriormente.
Tenho acompanhado notícias de brigas e problemas muito mais graves até que o aparecimento de uma cobra. Em maio, no Distrito Federal, o subsíndico de um prédio fez uma festa até a madrugada e agrediu fisicamente um morador que reclamou do barulho. No mesmo mês, em Campo Grande, MS, um morador também apanhou de um subsíndico por transportar o cachorro no elevador social, mesmo avisando que o outro estava em manutenção.
Todas as ocorrências que envolvam debates acalorados devem ser tratadas pelo síndico, a figura do prédio que representa todo o grupo de moradores e que deve apartar as brigas e relembrar as regras da convenção e regimento interno do condomínio. Persistindo o problema, é possível aplicar as advertências previstas nas normas internas, mas, se a situação for grande e complicada, pode haver a necessidade de registrar um boletim de ocorrência na Polícia ou acionar a Justiça.
Atuar como sindico não é uma tarefa fácil para condomínios com poucas unidades. Obviamente, a encrenca é ainda maior em prédios como o Copan, em São Paulo, com cerca de 5 mil moradores em suas mais de 1.100 unidades, ou o edifício JK, em Belo Horizonte, que foi tombado pela prefeitura no ano passado e que abriga aproximadamente 100 apartamentos residenciais. Ambos os síndicos desses prédios estão na função há 30 e 40 anos, respectivamente, e atuam num estilo linha dura para que essas cidades verticais funcionem de forma ordenada.
Enquanto os ânimos não se acalmam, ficamos nós aqui acompanhando as confusões e os desfechos das histórias, como faziam as vizinhanças de antigamente, só que de uma forma mais moderna, via compartilhamento de WhatsApp. Por falar nisso, até a manhã desta quinta, 1º de junho, ainda não havia notícias sobre o paradeiro da jiboia fugitiva do Parque Cidade Jardim.