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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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A tréplica a Janio de Freitas. E quem financia os black blocs. Ou: É preciso aprender para não acabar como supernanny de mensaleiro

Na minha coluna de sexta-feira, na Folha, fiz uma referência ao texto de Janio de Freitas publicado no dia anterior. Neste domingo, ele decide responder afetando uma distante superioridade. Fôssemos Janio e eu quem ele pensa que é e pensa que sou, teria ficado calado. Mas como se engana sobre si mesmo e sobre mim, […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 04h26 - Publicado em 16 fev 2014, 06h31

Na minha coluna de sexta-feira, na Folha, fiz uma referência ao texto de Janio de Freitas publicado no dia anterior. Neste domingo, ele decide responder afetando uma distante superioridade. Fôssemos Janio e eu quem ele pensa que é e pensa que sou, teria ficado calado. Mas como se engana sobre si mesmo e sobre mim, então falou. E eu respondo. E vocês vão perceber que eu expus uma divergência. Ele procurou me desqualificar. Por que não respondo na sexta próxima, na Folha? Talvez escreva alguma coisa, mas está muito longe. E as respostas que vêm tarde perdem o vigor. Então vai a quente. Para o leitor que não acompanhou a coisa, lá vai.

Na quinta, Janio  escreveu (em vermelho):
“Jonas Tadeu é reconhecido como muito habilidoso nas artimanhas próprias da advocacia que pratica. Para quem duvide, uma credencial de peso, no gênero: já foi advogado de Natalino Guimarães, preso em 2008 sob acusação de chefiar uma das mais poderosas milícias da Baixada Fluminense. Não é provável que acrescentar aos dois clientes atuais a condição de mercenários convenha à defesa. Poderia, sim, abrir caminho, por exemplo, para uma delação premiada, com os dois implicando alguém ou determinadas pessoas. Mas essa é uma especulação útil apenas para lembrar que mesmo as denúncias vazias podem ter caroços. Aliás, tê-los é da sua natureza: se não surgem com caroços, logo aparece quem os ponha.
Cedo ainda, ontem já aparecia no rádio um comentarista a falar na “extrema esquerda” como a possível pagadora das arruaças. Por que não também o possível interesse da direita, que toma outras muitas providências de organização encoberta para impor-se na sucessão presidencial? Jonas Tadeu recomenda não responder a certas perguntas.”

No dia seguinte, escrevi:
“PS – Janio de Freitas especulou sobre a honorabilidade de Jonas Tadeu Nunes, advogado dos assassinos de Santiago, porque já foi defensor de Natalino Guimarães, chefe de milícia. Alguns figurões do direito defenderam os ladrões do mensalão, e ninguém, com razão, duvidou da sua honra. O compromisso do advogado é com o direito de defesa, não com o crime praticado. O colunista referiu-se a mim –“um comentarista que já aparecia na rádio…”– porque perguntei a Jonas, na Jovem Pan, se grupos de extrema esquerda financiavam arruaceiros. Janio indaga se não poderiam ser de extrema direita. Se ela existisse, se fosse organizada, se tivesse partido, se recebesse verbas do fundo partidário, se tivesse suas “Sininhos” e seus piratas de olhos cerúleos, talvez… Acontece que as antípodas direita e extrema-direita no Brasil são substantivos abstratos, que só existem na mente meio paranoica das esquerdas. Ah, sim: apareceu uma lista de financiadores dos “black blocs”. Todos de esquerda. Quod erat demonstrandum.”

Na Folha deste domingo, Janio se enfeza:
FORAS
Reinaldo Azevedo, na Folha de sexta-feira, incluiu este trecho: Janio de Freitas “referiu-se a mim — um comentarista que já aparecia na rádio…’ — porque perguntei a Jonas, na Jovem Pan, se grupos de extrema esquerda financiavam arruaceiros”. Admito perder muito, mas não sou ouvinte da Jovem Pan e das ponderações de Reinaldo Azevedo. O comentário por mim citado foi transmitido pela CBN, em torno de 12h20 de quarta-feira, como pode ser comprovado por meio do saite da emissora.
Também não é verdadeiro que “Janio de Freitas especulou sobre a honorabilidade de Jonas Tadeu Nunes, advogado dos assassinos de Santiago, porque já foi defensor de Natalino Guimarães, chefe de milícia”. Para quem lê sem má-fé, ficou claro que citei Jonas Tadeu como ex-advogado de Natalino Guimarães para uma informação de entrelinha: os advogados de milicianos, e similares, em geral são definidos no meio advocatício, por suas artimanhas, com palavra que não desejei aplicar.
Por mim, Reinaldo Azevedo pode continuar tentando.

Então vamos ver
1 –  Onde ouviu – Ô, meu Deus! Janio não me ouve! Preciso dizer à Jovem Pan que já não são mais 30 milhões, mas apenas 29.999.999. De todo modo, jamais perde ou ganha alguma coisa quem não está disposto a aprender nada nem a esquecer nada. E esse é precisamente o seu caso — como ficará claro quando eu tratar do caso Pizzolato. Pode não me ouvir. Mas, segundo entendi, lê — ainda que isso possa lhe causar algum dissabor.

Ah, então foi outro. Que bom que mais alguém teve a mesma ideia, não é mesmo? Na quarta-feira, pouco depois das 8h30, Jonas Tadeu Nunes, advogado dos dois rapazes que acenderam o morteiro que matou o cinegrafista Santiago Andrade, concedeu uma entrevista à rádio Jovem Pan. O áudio está aqui. Ele denunciou que partidos políticos e políticos propriamente financiavam a violência, e eu lhe perguntei se os financiadores eram partidos de extrema esquerda. Minutos depois, a coisa se espalhou Brasil afora. Como se vê no link, às 9h56, a Jovem Pan já punha o áudio no ar. Às 11h56, publiquei um post a respeito, um dos mais lidos e reproduzidos da história do blog. Colaborou para que o blog batesse o recorde de visitas num único dia: 560.681.

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Não foi a minha intervenção que Janio ouviu porque não perde tempo comigo? A minha resposta, no mérito, segue a mesma. Na coluna de quinta e na deste domingo, ele se esforça, e não estranho, para tapar o sol com a peneira, tentando negar as evidências escancaradas de que partidos de extrema esquerda municiam os black blocs. A turma de Marcelo Freixo tem até um grupo de advogados à disposição para atender a esses patriotas.

2 – A honra do advogado – As palavras fazem sentido, e eu sou um fanático do sentido que elas têm. Sim, Janio de Freitas pôs em dúvida, ainda que por palavras oblíquas, a honorabilidade do advogado — o que, lamento ter de constatar, é coisa de quem não entende os fundamentos do estado de direito e de uma sociedade livre. Se ele souber de outra coisa que deponha contra a honra de Jonas Tadeu Nunes, então diga. O homem ter sido advogado de um miliciano não quer dizer nada. Tanto é assim que, se ninguém aceitasse a tarefa, o estado teria de nomear um defensor público. Janio se irrita porque não tem resposta para a questão que propus: cabeças coroadas se apresentaram para defender os criminosos do mensalão; sua honra, por isso, está manchada? Releiam o que ele escreveu e o que escrevi para ver onde está a má-fé.

Lá vamos nós
Janio encerra a sua diatribe enfezada contra mim afirmando: “Por mim, Reinado Azevedo pode continuar tentando”. Não sei direito o que quis dizer — a clareza nem sempre é seu melhor dom —, mas vamos lá. Em primeiro lugar, fosse por ele, eu nem escreveria nem tentaria. Como não é por ele, então não tento, mas escrevo.

A frase também pode sugerir, sei lá, que busco notoriedade ao contestá-lo. Acho que se superestima e me subestima. Tendo a apreciar os grandes que são modestos sobre suas próprias virtudes. Mas os que praticam o contrário dessa proporção invertida me convidam à piedade. Há certamente uma enorme diferença entre mim e Janio: sinceramente, penso que a vida já me deu muito mais do que eu mereceria ou ansiava. Tenho, no entanto, a certeza de que ele pensa o contrário sobre si mesmo, e a dor, nesses casos, não é pequena. Como eu nunca quis ser Machado de Assis, não terminarei como o Pestana do conto “Um Homem Célebre”. Posso “continuar tentando” o quê? Discordar de Janio de Freitas não me rende um único leitor a mais. Mas ele pode contar que essa sua coluna será uma das mais lidas de sua carreira. Não faço juízo de valor. É só uma questão de fato.

Pizzolato
Que Janio continue a não perder seu tempo comigo. Perdesse, não teria tentado nos convencer a ouvir o que Henrique Pizzolato, este homem honrado, tem a dizer. Minhas retinas cansadas, como disse o poeta, jamais se esquecerão de sua coluna do dia 19 de janeiro, de que transcrevo um trecho (em vermelho), freneticamente reproduzida pela rede petista (os destaques são meus):

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Na CPI que se ocupou do chamado mensalão, Henrique Pizzolato foi o depoente mais inseguro, titubeante, no próprio rosto o ritus do medo, senão pânico mesmo. Até muito mais do que o outro sufocado pela insegurança, Marcos Valério. Foi o único, também, a citar companheiro de partido e de governo de modo a transferir responsabilidades que lhe cobravam.
Já consumadas as condenações, participei de uma mesa de conversa sobre o processo, no Sindicato dos Advogados do Rio. À chegada, Henrique Pizzolato me esperava na saída do elevador, com a mulher.
Trazia uma pasta para me entregar, com documentos dados como comprovantes da realização de trabalhos, pela agência de Valério, negados na acusação do Ministério Público e pelo relator Joaquim Barbosa. A votação da maioria, no Supremo Tribunal Federal, acompanhou a negação.
A tibieza de Pizzolato me impressionou. Quem falou foi sua mulher, um ou dois minutos. Não consegui dizer mais do que os cumprimentos, fixado na imagem de Pizzolato.
Mais tarde, registrei parte do indicado pelos documentos, em princípio mais convincentes do que a acusação aparentemente mais fundada no desejo de acusar e condenar do que em fatos e provas bem apurados.
A fuga do casal Pizzolato não significou admissão de culpa. É natural o desejo de evitar a prisão, facilitado, no caso, pela dupla nacionalidade do condenado. Mas um pormenor ficou, para mim, como indagação cuja resposta poderia ser valiosa, diante de tanta coisa mal explicada, ou inexplicada, no processo e nas intervenções do julgamento. Os petistas, tanto os envolvidos no processo como os outros dirigentes, puseram Pizzolato à parte. É dele esta queixa, registrada por um dos seus defensores fora do tribunal: “O PT me abandonou”.
Por quê? Mais uma vez, Pizzolato foi o único. E não poderia faltar um motivo importante, a ponto de ser significativo para tantas pessoas que com ele conviveram em duradoura confiança, e o prestigiaram em indicações para cargos disputados. O que constatei ou deduzi a respeito não confirma nem conflita com a notícia, do “Estado de S. Paulo”, de uma conta na Suíça com possível movimento pelo foragido Henrique Pizzolato. Mas permite a convicção de que no rastro desse fato há numerosas consequências enfileiradas, capazes de mudar muitos aspectos estabelecidos sobre o chamado mensalão.

Retomo
Ainda que o texto possa fazer algumas especulações aparentemente incômodas ao PT — não mais do que aparentemente —, eis Janio de Freitas a lançar dúvidas sobre um dos crimes principais do mensalão: o peculato envolvendo o dinheiro do Fundo Visanet. Segundo diz, os documentos que Pizzolato apresentou provando que as agências de Marcos Valério haviam prestado o serviço eram mais convincentes do que a acusação.

Pois é… Duas semanas depois dessa coluna, aquele homem cuja tibieza impressionou Janio de Freitas, que humildemente saía a carregar debaixo do braço a pasta com as evidências de sua inocência, foi preso na Itália.
– falsificara documentos em nome do irmão morto, Celso Pizzolato, em 2007;
– falsificara passaporte em nome desse irmão em 2008;
– nesse mesmo ano, votou nas eleições como Celso e como Henrique Pizzolato;
– na Itália, viveu uma vida de rico;
– na casa de praia na Itália, há evidências de que movimentou de 20 mil a 30 mil euros, dinheiro oriundo da Espanha.

Janio não precisa perder tempo nem me lendo nem me ouvindo. Que ouça e leia outros que contribuam para que não passe o ridículo de se comportar como supernanny de mensaleiro. Mas ele não tem tempo nem de aprender nada nem de esquecer nada.

Então vai continuar tentando.

Texto publicado originalmente às 4h03
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