A operação Castelo de Areia, que investiga suposto pagamento de propina pela empreiteira Camargo Correa, pode envolver mais de 200 políticos e nada menos de sete partidos – entre eles, como não poderia deixar de ser, estão os quatro grandes: PT, PSDB, PMDB e DEM.
O Ministério Público Federal pediu investigação de 14 obras tocadas pela empresa em diversos estados. Até aí, muito bem. Se há empreiteira no meio, querem muitos, então há sacanagem. Que se investigue tudo, como sempre. Os que acham que só investigações contra os petistas me animam talvez esperem de mim aplausos entusiasmados ao que está em curso. Manchete da Folha de hoje diz que Adhemar Palocci, irmão do ex-ministro Antonio Palocci, é um dos suspeitos. Então vamos lá: pau no PT!!!
Reitero: que se investigue tudo; que se punam os culpados. Mas que esse caso é recheado de notas de surrealismo, ah, lá isso é.
Em primeiro lugar, note-se que o caso está sob sigilo de justiça, embora presente em todos os becos e em todas as bocas, com nomes sendo vazados aqui e ali. Conforme a empreiteira informa em nota divulgada hoje, os próprios acusados ainda não sabem direito do que são… acusados!
Na nota, diz a empresa: “A Camargo Corrêa está convicta da licitude da sua conduta e espera ter acesso a essas informações para que possa fazer sua defesa, direito que constitui base fundamental de um Estado democrático.”
É claro que a empreiteira não se diria culpada, sei disso muito bem. Mas é um absurdo que o jornalismo saiba antes do que são acusados A ou B – antes mesmo que seus advogados tenham ciência do processo. Hoje é com eles, leitor amigo; amanhã, pode ser com você. Sempre que o devido processo legal é desrespeitado, o que se promove é mais ilegalidade, não necessariamente justiça. Até porque as tais ilegalidades acabarão contando a favor dos investigados e podem até amenizar a situação dos culpados.
Sabem o mais curioso? Escrevo isso aqui desde que o ministro da justiça era Márcio Thomaz Bastos, quando operações e vazamentos dessa natureza começaram a virar rotina sob o pretexto de se combater a impunidade.
Bastos não é mais ministro da Justiça. Hoje, ele é advogado da Camargo Correa. Combate, agora como profissional muitíssimo bem-pago, uma máquina que ajudou a criar e práticas que ajudou a consolidar.
Engraçado, não? Ele mudou de lado no balcão. Eu não mudei. E continuo a escrever o que sempre escrevi. Poderia, tolamente, brincar de empatar o jogo; lembrar que o PT é acusado no caso da Castelo de Areia,assim como o DEM é acusado em Brasília.
Mas estou entre aqueles chatos que acreditam que, numa democracia, a ilegalidade, mesmo contra eventuais criminosos, não colabora com a legalidade. A ilegalidade, ainda que contra os “homens de mal”, atinge sempre os homens de bem. Não adianta: por mais popular e consensual que seja aplaudir certas transgressões, não contem comigo. PS – Ah, sim: imprensa não tem nada com isso; tem mais é de publlicar o que tem. A questão é saber quem é responsável por manter o sigilo.