Por Robson Bonin, na VEJA.com. Ainda voltarei a esse assunto.
Preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba desde 17 de março, o doleiro Alberto Youssef seguia afastado dos olhos do país. Apontado como o cabeça de um esquema de lavagem de dinheiro que teria desviado 10 bilhões de reais, Youssef manteve-se em silêncio no depoimento que prestou em 21 de março. O doleiro continua se recusando a colaborar com a polícia para apontar quem eram as autoridades e empresários beneficiados pelo esquema. Mas a sua presença no cárcere agora tornou-se um problema para a Justiça e para a própria Polícia Federal. Em 4 de abril, os advogados de Youssef registraram, no parlatório da Polícia Federal, a foto que abre esta reportagem. Youssef, barbudo, visivelmente mais magro e com uma camisa amarrotada exibe nas mãos, do outro lado do vidro que o separa dos seus defensores, o que seria uma escuta ambiental.
O dispositivo, segundo os advogados de Youssef, estava escondido na cela do doleiro. Temendo que as conversas dele com outros presos estivessem sendo monitoradas, o advogado Antonio Augusto Figueiredo Basto comunicou o ocorrido ao juiz Sérgio Moro, que cuida do caso na capital paranaense. “O aparelho fotografado pode ser usado para escuta ambiental GSM, ou seja, conforme peritos ouvidos pela defesa, trata-se de uma escuta ambiental que permite o monitoramento das conversas entre o requerente e outros presos em tempo real”, registrou Figueiredo no documento enviado ao juiz.
Os defensores de Youssef destacam ainda que os autos de processo não apresentam autorização judicial que justifique a existência da escuta ambiental na cela do doleiro: “Não encontramos nenhuma decisão judicial que autorizasse a instalação ou uso de escutas ambientais. Para evitar equívocos a defesa suscitou a vossa excelência que fosse certificado nos autos sobre a existência ou não de autorização judicial sobre escutas ambientais.” Ainda segundo os advogados, nesta quinta-feira os agentes da Polícia Federal teriam realizado uma busca na cela de Youssef para apreender o dispositivo. Foi essa ação que levou a defesa a encaminha um conjunto de solicitações à Justiça. “Não estamos acusando ninguém. Mas o fato é grave. Temos um perito que afirma que o dispositivo localizado pelo meu cliente é uma escuta. Agora queremos saber se ela é clandestina ou se foi autorizada”, diz Figueiredo.