Na metáfora que adotei, com algum humor, de uma amiga que, com graça, identifica pessoas que pensam de modo distinto como de “enfermarias diferentes”, digo que eu e Fernando Barros e Silva, articulista da Folha, somos, então, de “enfermarias diferentes”. Discordamos em muita coisa. E assinaria seu texto na Folha de hoje:
Os linchadores da Uniban
SÃO PAULO – A notícia da expulsão de Geisy Arruda pela Uniban é estarrecedora. O informe divulgado ontem pela direção da universidade, por meio do qual a aluna ficou sabendo da decisão, é um panfleto obscurantista que requer análise. Ele transforma a incitação ao estupro de uma jovem acossada na universidade por algumas centenas de marmanjos em “reação coletiva de defesa do ambiente escolar”.
Eis o que conclui a “sindicância” da Uniban: “Foi constatado que a atitude provocativa da aluna buscou chamar a atenção para si por conta de gestos e modos de se expressar, o que resultou numa reação coletiva de defesa do ambiente escolar”. Geisy, diz a nota, ensejou “de forma explícita os apelos dos alunos” e foi expulsa por “flagrante desrespeito aos princípios éticos, à dignidade acadêmica e à moralidade”. O título do informe agrega ao conteúdo um toque de humor negro: “A educação se faz com atitude e não com complacência”.
De que educação falam esses farsantes? Devemos chamar essa fábrica de açougueiros de instituição de ensino? Que princípio ético ou dignidade acadêmica podem sobreviver a uma escola que pune a vítima humilhada para respaldar a brutalidade e a covardia de uma turba excitada com a própria fúria?
Como se sentirão agora as garotas que estudam na Uniban? Estarão os rapazes liberados pela direção a agir sempre assim em defesa do “ambiente escolar”?
As cenas são conhecidas: “Pu-ta!, pu-ta!”, “vamos estuprar!”, “solta ela, professor!”. Um aluno chutou a maçaneta da porta da sala em que a moça estava encurralada; outros tentaram colocar o celular entre suas pernas para fotografá-la.
A Uniban invoca um zelo pedagógico que não tem para satisfazer a vontade fascista da maioria e preservar os negócios. Com sua decisão, ela deu chancela institucional aos atos de barbárie praticados em suas dependências. Mais do que isso: ao linchar Geisy, a universidade consuma o serviço que os alunos haviam deixado pela metade.