Dimenstein, o progressista, revela seu lado machista e usa a mulher como metáfora de um fardo, de elemento pouco atraente, de coisa chata
Gilberto Dimenstein, o autoproclamado síndico da cidade — mais ou menos como certo partidário do aborto se diz “bispo” — anda em crise de identidade e pediu a seus leitores que votem: ele seria serrista ou antisserrista? Haddadista (é assim que se diz?) ou anti-haddadista? É uma tentativa de ser irônico e de afetar independência. […]
Gilberto Dimenstein, o autoproclamado síndico da cidade — mais ou menos como certo partidário do aborto se diz “bispo” — anda em crise de identidade e pediu a seus leitores que votem: ele seria serrista ou antisserrista? Haddadista (é assim que se diz?) ou anti-haddadista? É uma tentativa de ser irônico e de afetar independência. Parte da premissa tola de que, caso seja hostilizado pelos dos dois lados, então é sinal de que está certo e é isento. Bem, de saída, noto que isso é falso. Pode ser um sinal, por exemplo, de que diz bobagem de um lado e de outro.
Sua militância contra a candidatura de José Serra a qualquer cargo fica evidente nos seus textos. Se ainda há petistas que o acusam de privilegiar o ex-governador, é só porque sabem que, em certos nichos do jornalismo, esse tipo de patrulha funciona. Os petralhyas vão sempre tachar a imprensa e quem não pertence, oficialmente ao menos, ao JEG de… tucana! A turma sabe que alguns “acusados” farão questão de demonstrar que isso não é verdade e descerão o sarrafo, então, em políticos do PSDB, mereçam ou não. É o que chamo de “isentismo”, coisa diferente da “isenção”. Mas esse aspecto é o de menos agora.
Dimenstein é tão petistófilo, mas tão petistófilo, que decidiu escrever um texto elogiando Serra — para demonstrar aos tucanos que é isento —, mas falando mal do pré-candidato (porque, assim, seus amigos petistas não ficam bravos). Produziu um parágrafo que é uma verdadeira pérola do machismo, com laivos de cafajestagem misógina. Vamos ver.
Leitores sabem que desconfio da candidatura Serra. Não porque lhe falte competência para ser prefeito. Mas porque lhe falta vontade, afinal seu projeto é o Planalto. Parece que ele tem o entusiasmo de quem, por falta de alternativa, está casando de novo com a ex-mulher. Já não via vontade na sua eleição passada e foi o que me motivou, durante a sabatina na Folha, a lhe entregar um documento se comprometendo a não deixar a prefeitura.
A pontuação é do original, e é tarde demais para explicar certas coisas. Notem que Doutor Dimenstein é um analista das vontades alheias. O primeiro grande comício da candidatura de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo será feito em… São Bernardo! Mas o valente analista não especula sobre eventuais segundas intenções de seu pleito. Petistas são naturalmente bem-intencionados, como a gente sabe.
Quanto à metáfora a que ele recorreu, dizer o quê? Na sua alegoriazinha machista e cafajeste, o homem, um caçador frustrado de novidades — naturalmente inclinado a ficar mudando de mulher mais ou menos como quem sai por aí fundando ONGs —, vê-se na contingência de casar com a mesma. Entende-se que está sem vontade, sem tesão, porque terá de dormir, de novo!, com a já conhecida! Já a mulher… Bem, ela, talvez por amor (vocês sabem: mulheres amam; homens comem…), não tem espaço para lamentar: “De novo este cara!”. É evidente que, se um dito “reacionário” como eu escrevesse uma batatada dessas, levaria porrada do feminismo militante. Como se trata de um “progressista”, amigado da humanidade, tudo bem! Só que ocorre uma coisinha aí: embora eu considere o politicamente correto uma estupidez e uma forma de censura, eu jamais escreveria uma bobagem assim.
Dimenstein confessou
Caso Marta tivesse vencido a (re)eleição à Prefeitura em 2004, teria deixado o cargo em 2006 para concorrer ao governo de São Paulo. Esse era o projeto. Isso era tão evidente que o PT se negou a dar a vaga de vice ao PMDB. Ao contrário: entregou-a a Rui Falcão. Como sou um homem bom, sempre achei que Dimenstein tivesse sacado aquele papelzinho ridículo pensando tanto em Serra como em Marta — afinal, havia a possibilidade de qualquer um dos dois renunciar à Prefeitura para concorrer ao governo.
Nada disso! Ele agora confessa que se tratou mesmo de uma ação anti-Serra; era esse o objetivo. E depois ele ainda pede que seus leitores opinem sobre o seu serrismo ou seu haddadismo…
Quanto à questão das mulheres… Progressistas assim já vi muitos: o sujeito se diz favorável a cotas raciais, por exemplo, mas não suporta ver um negro bem-sucedido e logo diz que ele tem a “alma branca”; o cara se diz a favor de ONGs feministas, mas ainda usa a mulher como metáfora de um fardo, de elemento pouco atraente, de coisa chata, que apenas se tolera. Em desagravo à minha mulher, às minhas filhas, às minhas milhares de leitoras e às mulheres de todo o mundo, deixo aqui o meu protesto.
Bem, eu mais troco farpas com algumas ONGs de uma causa e de outra do que faço trocas amistosas. A razão é simples: não sou profissional de militância nenhuma nem vivo disso. Prefiro respeitar os negros, prefiro respeitar as mulheres, prefiro respeitar os indivíduos e lutar pela efetiva e real igualdade de oportunidades entre os seres humanos.
Dimenstein foi fazer uma gracinha e se deu mal; acabou traindo o que lhe vai no fundo do pensamento, mitigado por seu, como posso dizer?, “profissionalismo” politicamente correto.
PS – Por favor, vamos fazer comentários edificantes, que colaborem para que Dimenstein passe a respeitar as mulheres.