Egito – Mursi já era!
Mohamed Mursi, presidente do Egito, já era. O Exército agora dá as cartas. E com o apoio de parte considerável da população. Há, sim, risco de a coisa degenerar. O Exército egípcio, no entanto, não é e nunca foi como o sírio ou o líbio — uma espécie de gangue armada a serviço de plutocratas. […]
Mohamed Mursi, presidente do Egito, já era. O Exército agora dá as cartas. E com o apoio de parte considerável da população. Há, sim, risco de a coisa degenerar. O Exército egípcio, no entanto, não é e nunca foi como o sírio ou o líbio — uma espécie de gangue armada a serviço de plutocratas. Para o bem e para o mal, é uma força onipresente na sociedade e tem o respeito de boa parte da população. Não há solução possível com o Mursi no poder. O certo é que os planos de islamização da sociedade da Irmandade Muçulmana deram com os burros n’água.
Consta que os militares preferem que ele caia fora mesmo. Um governo interino assumiria por um prazo de nove meses a um ano, chefiado pelo presidente do tribunal constitucional do país. Nesse tempo, far-se-ia uma nova Constituição, que garantiria a pluralidade política, submetida depois a referendo. Sob a égide da nova Carta, realizar-se-iam então novas eleições gerais.
Pluralidade garantida com tanques? Pois é… Coisa bem própria desses tempos em que a Irmandade Muçulmana é tratada pela imprensa ocidental como força democrática… Leiam texto na VEJA.com:
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Pressionado pelos militares e por manifestações que pedem sua renúncia, o presidente egípcio, Mohamed Mursi, sugeriu, nesta quarta-feira, a criação de um governo de coalizão para solucionar a crise política no país. A proposta foi feita por meio de um comunicado divulgado pelo Facebook e o Twitter pouco depois de esgotado o prazo de 48 horas imposto pelo Exército para que Mursi chegasse a um acordo com os manifestantes. O prazo expirou às 16h30 (11h30 de Brasília). Ao mesmo tempo, dezenas de milhares de pessoas estão reunidas neste momento na Praça Tahrir, em volta dos dois palácios presidenciais no Cairo, aguardando a saída de Mursi.
Em seu comunicado, Mursi pede diálogo nacional e aposta na criação de um governo de transição até que sejam realizadas eleições parlamentares. No entanto, o presidente voltou a dizer que não renunciará e pediu aos egípcios que apoiem seu plano de união nacional.
A presença militar e de veículos blindados do Exército na capital egípcia aumenta o clima de tensão. Testemunhas disseram à agência Reuters que há centenas de soldados egípcios com tanques na principal avenida próxima aos palácios presidenciais.
Em sua conta no Twitter, o porta-voz da Irmandade Muçulmana, Gehad Al Haddad, disse que um golpe militar está em andamento no Egito – o Exército havia ameaçado uma intervenção militar caso Mursi não chegasse a um acordo com a oposição para partilhar poderes. “Tanques começaram a se mover nas ruas”, escreveu al Haddad.
Na terça-feira, o Exército anunciou que tinha planos de suspender a Constituição do país, dissolver o Parlamento e convocar novas eleições presidenciais. Os militares também declararam, em comunicado, que estavam prontos para “derramar o próprio sangue” para defender o país de “terroristas, extremistas ou ignorantes”. Era uma resposta ao discurso de Mursi, que rejeitou renunciar e disse que protegerá seu mandato com a própria vida.
Desde a última semana, às vésperas do aniversário de um ano da posse do presidente, milhares de pessoas foram às ruas para pedir sua renúncia. Também há registros de protestos pró-Mursi, como o desta madrugada, nos arredores da Universidade do Cairo, em que pelo menos dezesseis pessoas morreram durante uma manifestação de partidários do presidente egípcio. Mais cedo, outras sete pessoas haviam morrido em confrontos durante os protestos no país.
Mobilização
As manifestações atingiram o mais alto nível de participação no último domingo, quando Mursi completou um ano no poder e milhões foram às ruas para pedir sua renúncia. Há um ano, o membro da Irmandade Muçulmana assumiu o poder, que estava nas mãos de uma Junta Militar desde a queda do ditador Hosni Mubarak, em fevereiro de 2001.
No período em que os militares estavam no comando do país, os manifestantes os acusavam de minar os esforços para a construção da democracia. Mas, antes mesmo de largar o poder, a junta negociava para manter alguma relevância dentro do novo governo. Mursi assumiu a Presidência, mandou para a reserva os generais mais influentes e substituiu-os por outros simpáticos à Irmandade.
Quem esperava ver no poder um defensor da democracia, dos direitos humanos e das liberdades universais, acabou se deparando com um novo ditador. E, como ocorreu nos dias que antecederam a derrubada de Mubarak, o papel das Forças Armadas será determinante para traçar o futuro do país. Para muitos cidadãos, os militares podem trazer a ordem que o país não encontrou ao longo de um ano marcado pela crise política e por uma cada vez mais aguda crise econômica. Não deixa de ser uma opção desoladora.