Há muita coisa a tratar, e eu sou um só (ainda bem…). Prometi tratar do crime que está sendo cometido na Embrapa contra a Embrapa e ainda não o fiz. Segue um editorial de hoje do Estadão.
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Grande parte dos brasileiros tem conhecimento dos enormes desafios de gestão territorial enfrentados pelo País e suas consequências. Trágicas em muitos casos, como na ocupação urbana irregular em áreas de risco ou nas dificuldades de controle das fronteiras, por onde são introduzidas ilegalmente desde drogas e armas até enfermidades, como a febre aftosa, que podem abalar setores da economia nacional.
O que poucos sabem é que, há mais de 20 anos, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) criou uma equipe técnica altamente qualificada para monitorar por satélite todo o território nacional. Instalada em Campinas, dispondo de equipamentos sofisticados e com atuação competente e discreta, a área de Gestão Territorial Estratégica (GTE) da Embrapa Monitoramento por Satélite permitiu o fornecimento constante de dados exclusivos, inéditos e fundamentais aos órgãos da Presidência da República e ao gabinete do ministro da Agricultura.
Dentre eles cabe destacar: o monitoramento mensal por satélite de centenas de obras do PAC em todo o País; a qualificação de infraestruturas críticas nas áreas de comunicação, energia e logística; o mapeamento e a quantificação das áreas urbanizadas nos municípios e no entorno dos novos estádios onde ocorrerão os jogos da Copa do Mundo de 2014; o desenvolvimento de sistemas operacionais de detecção precoce de problemas na faixa de fronteira; a geração de informações estatísticas sobre a dinâmica da produção agrícola; e a expansão da agronergia e do etanol, entre outros.
A GTE apoia os trabalhos do contingente brasileiro na Missão de Pacificação da ONU no Haiti com imagens de satélite, essenciais para a ajuda após as inundações de 2004 e o terremoto de 2010. Suas imagens de alta resolução ainda serviram para apoiar as operações de pacificação nas favelas do Rio de Janeiro, como em Manguinhos e no Morro do Alemão.
Essas atividades de sensoriamento têm auxiliado os presidentes da República – de José Sarney a Dilma Rousseff – e os ministros da Agricultura em complicados processos de tomada de decisões.
Com o crescimento do País e de sua agricultura, e diante da constante necessidade de defender os interesses nacionais, aquelas autoridades não podem prescindir de dados e informações territoriais dessa natureza. Era de esperar o fortalecimento da equipe da GTE e de sua autonomia operacional, pelos resultados alcançados durante o governo do presidente Lula. Mas não. Dizem os espanhóis que a ignorância é audaciosa. Talvez isso explique a recente decisão do chefe da Embrapa Monitoramento por Satélite de destituir a equipe e desmantelar o seu comando e retirar a autonomia da área de Gestão Territorial Estratégica, sob pretexto de implantar um novo regimento interno, com o apoio tácito do presidente da Embrapa.
Essa decisão estapafúrdia de desmontar o serviço de gestão territorial estratégica – com consequências desastrosas para a agricultura e o monitoramento territorial do Brasil – foi denunciada no artigo Perde a Embrapa, perde o Brasil, publicado neste jornal no último dia 15, pelo jornalista Rodrigo Lara Mesquita. A confirmação das informações divulgadas provocou forte reação dos usuários desse serviço no agronegócio, em organizações rurais, instituições governamentais e até do prefeito de Campinas, que se manifestaram junto ao Ministro da Agricultura e ao governo federal.
O Ministro Rossi interveio com diligência e avocou para si as decisões neste caso, embora a direção da Embrapa se mantenha em uma atitude de insubordinação.
O futuro dessa equipe de excelência, instrumento estratégico do Ministério da Agricultura, interessa ao País, que só pode planejar e monitorar o manejo de seu vasto território se dispuser de informações seguras e oportunas. Nesse sentido, a continuidade do serviço de gestão territorial estratégica interessa não só ao Ministério da Agricultura, mas também ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, à Casa Civil, aos Ministérios do Planejamento, das Cidades e da Defesa. O interesse nacional está em jogo.