Ai, ai, vamos lá. Fernando Haddad, apresentado à cidade de São Paulo como o “homem novo”, venceu a disputa eleitoral oferecendo aos deslumbrados uma maquete, inventada pelo marqueteiro João Santana, que atendia pelo nome de “Arco do Futuro”. Ninguém entendia que estrovenga era aquela, mas parecia moderno, e os jornalistas ditos progressistas das redações tinham verdadeiros frêmitos, quase gozosos. Nota: foi a segunda vez que uma maquete venceu a eleição; na primeira, Duda Mendonça inventou o Fura-Fila de Celso Pitta… Mas Haddad não ficou só nisso: também capturou muitos pobres prometendo zerar o déficit de vagas de creche na cidade. E dizia de boca cheia que o faria em parceria com a “presidenta Dilma Rousseff”.
Acabou! Já era! O Arco do Futuro ficou no passado. Ninguém nem mais se lembra daquela besteira. De concreto, o que se tem uma cidade rasgada por ciclofaixas da cor vermelho-deserto, uma invenção haddadiana, e só. Os deslumbrados ficaram sem seu arco, e os pobres sem as creches. Nesta terça, a Prefeitura anunciou que não vai, é claro, cumprir a promessa de construir 243 unidades até 2016. Era só para ganhar a eleição.
Por que não? Ora, a explicação cândida é uma só: falta de dinheiro. É? Mas de onde Haddad disse que tiraria os recursos, quando disputou a eleição em 2012? Ele não conhecia o orçamento da cidade? Que homem curioso! Na sua gestão, caiu drasticamente o número de atendimentos do serviço municipal de Saúde. Explicação? Segundo a Prefeitura, faltam médicos. Mas espere: o secretário de Relações Governamentais da cidade de São Paulo é o médico petista Alexandre Padilha, que se orgulha de ser o criador do… Mais Médicos!
As creches devem se limitar, informa Gabriel Chalita, secretário de Educação, a 147 — 40% do anunciado inicialmente. Haddad, que prometia não deixar uma só criança sem atendimento, conta uma fila de 106 mil à espera de vagas. O mago que faria 243 estabelecimentos até o fim do mandato conta, até agora, com apenas 47 — e muitas delas ainda em fase de conclusão. ATENÇÃO! EM DOIS ANOS E MEIO, A PREFEITURA NÃO ENTREGOU NEM O PRIMEIRO LOTE DE 47 UNIDADES. VOCÊS ACHAM QUE CONSEGUIRÁ CONSTRUIR MAIS CEM NO ANO E MEIO QUE FALTA? DUVIDO!
E o déficit só não é maior porque a Prefeitura já recorreu a um truque sujo: resolveu fazer com que as crianças pulassem uma etapa. Assim, elas podem ser acomodadas em séries que permitem um maior número de alunos em sala. Haddad é um mágico. Aumentou em 10% o número de crianças atendidas, mas só em 6% o de vagas. O inconveniente é que os professores estão tendo de lidar com crianças com menos de dois anos na mesma sala em que há outras de três. Pais e mães sabem a diferença brutal que existe entre essas duas idades. Bebês com menos de dois anos ainda não tiraram a fralda, por exemplo. Deveriam estar acomodados em salas com, no máximo, 12 crianças. Estão sendo enviados para as que comportam 24. Eis o homem novo.
Chalita, como se estivesse construindo uma daquelas frases ruins de seus livros de autoajuda, filosofa: “Mais importante que construir, ainda que estejamos construindo muito, é não deixar crianças fora da escola”. Bem, em primeiro lugar, não estão construindo muito, mas pouco. Em segundo lugar, é evidente que ninguém pensa na construção pela construção. É mesmo para abrigar as crianças, ora! Segundo diz, tudo será resolvido com as creches conveniadas. É? Se é tão simples, por que já não se fez?
Quando assumiu a pasta em janeiro deste ano, Chalita tirou um coelho da cartola, como a facilidade com que tira frases do seu estoque de lugares-comuns. Disse que faria convênio com empresas privadas. Até agora, não aconteceu nada. Talvez uma rede de supermercados adote 20 unidades… É que Chalita prometeu sem atentar para o fato de que empresas que aceitam esse desafio têm de ter compensação em isenção fiscal. Mas esse modelo inexiste.
Haddad e Chalita, afinal, são apenas exotismos distintos que se combinam. É o esquerdismo com excesso de imaginação se juntando ao conservadorismo sem imaginação nenhuma. O resultado são milhares de crianças na fila de espera e ainda bebês amontados em salas inadequadas à sua idade.
Eis os homens novos!