Pedir para depor é um direito que todos têm. Logo, Jonas Suassuna também. Ele e Fernando Bittar são sócios de Fábio Luiz da Silva, o Lulinha, na Gamecorp, aquela empresa que teve 30% das ações compradas pela Telemar (hoje Oi) e, oficialmente, são donos do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia, que parece ter merecido da mesma Oi uma deferência e tanto: uma antena logo ali…
É aquele sítio que foi reformado pela Odebrecht, pela OAS e pela agropecuária São Fernando (de José Carlos Bumlai), empresas investigadas na Lava-Jato. É aquele sítio que teve a reforma pessoalmente gerenciada por Marisa Letícia, mulher de Lula, e para o qual ela comprou um bote de alumínio. É aquele sítio para onde pertences pessoais de Lula, inclusive algumas dezenas de caixas de bebida, foram enviados. É aquele sítio que teve a instalação de móveis e eletrodomésticos de cozinha custeados pela OAS. É aquele sítio que serve ao descanso de Lula e sua família. É aquele sítio que, segundo o próprio Gilberto Carvalho, pode ter abrigado um “presente” dos empreiteiros a Lula. Por que não? Faz tanto sentido como jabutis voadores.
O sítio está sob investigação. A defesa de Suassuna pediu acesso ao inquérito e afirma que o empresário quer depor aos procuradores da Lava Jato. Ary Bergher, que coordena a defesa — e não se sabe, até agora, do que precisamente é acusado —, diz que seu cliente vai franquear o acesso de seus dados fiscais e bancários.
Todos sabem que considero sagrado o direito de defesa. Mas igualmente me reservo o direito de apontar ações que são principalmente midiáticas, e essa é uma delas. Comecemos do óbvio: havendo indícios que o justifiquem, a autoridade que investiga pode pedir à Justiça a quebra desses sigilos.
Quase nunca, saibam, as lambanças de um laranja — gente que se faz passar por dona de um bem ou de uma empresa para ocultar o real proprietário — estão espelhadas em sua vida fiscal e bancária. O mais comum, ora essa, é que não esteja mesmo. Eis o bom laranja.
Não estou asseverando que seja o caso de Suassuna e de Bittar. Só estou deixando claro que, por si só, isso não quer dizer grande coisa. Tampouco a prática de se oferecer para depor. Ainda me lembro de Eduardo Cunha indo à CPI de moto-próprio, sem ser convocado. Assegurou que não tinha conta no exterior. Do seu ponto de vista, teria sido melhor não ter ido.
A compra do sítio foi lavrada no escritório de Roberto Teixeira, advogado e compadre de Lula. Suassuna pagou R$ 1 milhão por sua parte; Fernando Bittar, R$ 500 mil, R$ 100 mil dos quais em dinheiro vivo. Para lembrar: o filho mais novo de Lula, Luís Cláudio, investigado na Operação Zelotes, mora de graça num apartamento avaliado em R$ 1,5 milhão que seria de… Teixeira! Lulinha, o mais velho, mora de graça num apartamento avaliado em R$ 6 milhões que seria… de Suassuna. Não chega a ser engraçado?
Ou por outra: Suassuna, sem nenhuma ironia, é o amigo que certamente todos gostariam de ter. Ele tem um apartamentaço e cede de graça a um amigo; tem um sítio e praticamente entrega ao usufruto da família desse amigo, que o frequentou mais de centena de vezes. A propósito: quantas vezes os respectivos familiares de Suassuna e Bittar visitaram a propriedade?
Nem um pleito nem outro da defesa precisam ser atendidos agora. Caso o inquérito esteja numa fase em que os dados devam permanecer em sigilo para não prejudicar a investigação, o acesso pode ser negado. E o Ministério Público também pode considerar que ainda não é hora de ouvir Suassuna.
Mas o expediente sempre tem algum impacto: o que se pretende é mostrar destemor.
Querem saber? Eu duvido que se vá achar alguma irregularidade formal no registro desse imóvel, em nome de Suassuna e Bittar. Também me parece evidente que eles têm rendimentos para ser donos da propriedade.
O ponto é justamente este: por que a dupla é a dona formal de um imóvel que, está mais do que evidenciado, servia a Lula e à sua família e teve uma reforma pensada para atender ao gosto do Demiurgo, de sorte que foi gerenciada por sua mulher — aquela que comprou o bote de alumínio?
A realidade nem é uma peça de acusação nem é uma peça da defesa, que são questões afeitas às técnicas e às regras do direito, fundamentais para a organização social. Ainda que jamais se venha a provar que Suassuna é laranja de Lula ou mesmo de Lulinha (o mesmo vale para Bittar), há as constatações, como diria o filósofo, que estão além do Bem e do Mal: há o que todo mundo sabe.
E Lula pode tirar o cavalo da chuva. Não vai escapar de um juiz muito mais temerário pra ele do que Sergio Moro: o povo!