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Reinaldo Azevedo

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Um lamento profundo por Hector Babenco

Morre aos 70 o diretor de alguns clássicos do cinema brasileiro. E eu lhes recomendo que assistam ao excelente e quase desconhecido “Coração Iluminado”

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 30 jul 2020, 22h17 - Publicado em 14 jul 2016, 17h23

babenco

Morreu, aos 70 anos, o diretor de cinema Hector Babenco (foto), argentino de nascimento, brasileiro por opção. Tinha, sim, algumas divergências com ele, mas sempre lhe reconheci um enorme talento. Sofreu uma parada cardiorrespiratória no Hospital Sírio-Libanês. Estava internado havia dois dias para tratar de uma sinusite. As coisas podem ser assim, bestas. Babenco havia enfrentado e vencido um câncer. Mas ainda não era a hora de Átropo lhe cortar o fio. Aconteceu às 22h50 desta quarta. Assim, do nada.

Era um homem notavelmente inteligente e talentoso. Fez história no cinema com “Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia” (1976); “Pixote, A Lei do Mais Fraco” (1980);  “O Beijo da Mulher Aranha” (1985) e “Carandiru” (2003).

Mesmo quando enveredava para o drama social, Babenco sabia fazê-lo sem demagogia barata. Não usava o sofrimento do mais fraco como pretexto para o baixo proselitismo e para vender redenções baratas. Babenco não fazia de dramas humanos um caminho para a ascese revolucionária, que costuma ser estupidamente otimista. Havia um pessimismo maduro e civilizado em sua obra que sempre me encantou.

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E, por isso mesmo, porque me interessam mais as pessoas do que as causas, o seu filme de que mais gosto é “Coração Iluminado” (1996), um assumido mergulho autobiográfico.  É provável que seja o seu filme menos conhecido.

Certa feita, num aniversário de Contardo Calligaris, a que ambos comparecemos, conversamos sobre uma das cenas do filme, em que Ana, a personagem interpretada por Maria Luísa Mendonça, dança com Juan (Miguel Ángel Sola) ao som de “Ho capito che ti amo”. Raramente uma sequência do cinema brasileiro conseguiu juntar com tanta competência lirismo, desespero e beleza. Há ali uma urgência de vida à beira do abismo que só os muito talentosos conseguem reproduzir.

Quando lhe disse que eu era apaixonado por aquela sequência, seus olhos se iluminaram. E ele me disse algo assim: “Também é um dos momentos de que mais gosto nos meus filmes, mas ninguém deu a menor bola pra ela. Aliás, torceram o nariz para todo o filme. E eu me perguntei: ‘Onde foi que acertei?’”.

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E continuamos a falar sobre o filme. Ganhei uma frase de presente, que ele me disse rindo: “Eu achava que você não fosse mesmo tão mau como dizem…”. Talvez não.

Humor, inteligência, ironia fina, talento.

Vem Átropo e corta o fio.

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