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Em depoimento à Polícia Federal, a contadora Meire Poza detalhou as negociações – reveladas por ela em entrevista a VEJA – entre o doleiro Alberto Youssef, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o deputado André Vargas (sem partido-SP) para obtenção de apoio político para que o doleiro pudesse fazer negócios com os fundos de pensão dos Correios e da Caixa Econômica Federal. Youssef, pivô do bilionário esquema de lavagem de dinheiro desarticulado pela Operação Lava-Jato, queria que os fundos das estatais injetassem 50 milhões de reais em uma de suas empresas e, segundo Meire, tratou pessoalmente com Renan do aval do PMDB para a negociação.
Meire é considerada testemunha-chave da Operação Lava-Jato da PF, que levou Youssef à prisão em março. Em entrevista a VEJA, ela contou um pouco do que presenciou durante os mais de três anos em que prestou serviços ao doleiro. Meire era responsável por manusear notas fiscais frias, assinar contratos de serviços que jamais foram feitos e montar empresas de fachada destinadas à lavagem de dinheiro. Nesse período, ela viu malas de dinheiro saindo da sede de grandes empreiteiras e chegando às mãos de notórios políticos. À PF, Meire detalhou que o doleiro ofereceu em contrapartida a Vargas e Renan repasse de comissões a integrantes do PMDB e PT, partido ao qual pertencia o deputado, segundo reportagem do jornal O Globo.
A contadora afirmou à PF que o negócio entre Youssef e os parlamentares só não se concretizou porque o doleiro foi preso. Cinco dias antes de ser capturado pela PF no Maranhão, Youssef reuniu-se em 12 de março com Renan para, segundo Meire, fechar um acordo verbal para ser beneficiado com 50 milhões de reais do Postalis (fundo dos Correios) e Funcef (fundo da Caixa). Vargas teria ajudado na articulação com a ala petista dos fundos de pensão. Ainda segundo a contadora, o negócio renderia uma comissão de 10% aos “corretores” – pessoas responsáveis por repassar o dinheiro aos partidos. Não se sabe qual porcentual do montante seria repassado aos políticos.
Investigadores do caso ouvidos pelo jornal explicam que o doleiro precisava de dinheiro e tentou convencer Postalis e Funcef a investirem 50 milhões de reais em uma de suas empresas, a Marsans Brasil. Como encontrou resistência de dirigentes vinculados ao PMDB, decidiu procurar Renan. Meire conta que, dois dias depois do encontro, ele afirmou a ela, em tom de comemoração, que havia conseguido os 50 milhões de reais para a Marsans. Pelo acerto, Postalis e Funcef fariam aportes de 25 milhões de reais cada na empresa. Ouvidos pelo jornal, Renan e Vargas negam qualquer relação com o negócio.
Os nomes de Vargas e de Renan já foram citados a VEJA por Meire Poza, que listou ainda o senador Fernando Collor (PTB-AL), o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) e o ex-ministro e atual conselheiro do Tribunal de Contas da Bahia Mário Negromonte, filiado ao PP. Os depoimentos da contadora foram decisivos para estabelecer o elo entre os dois lados do crime — principalmente no setor tido como o grande filão do grupo: a Petrobras. As empreiteiras que tinham negócios com a estatal forjavam a contratação de serviços para passar dinheiro ao doleiro.