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Geddel, 2008: Quem estiver podre que se exploda, pague seu preço

"O que não se pode admitir é que o comportamento de alguns apequene a atividade pública", dizia há nove anos o então ministro da Integração Nacional

Por Da redação
Atualizado em 4 jun 2024, 20h04 - Publicado em 3 jul 2017, 22h42
Geddel Vieira Lima, em 2008
Clique para ler a entrevista no Arquivo Digital de VEJA (Reprodução/VEJA.com)

Em dezembro de 2008, Geddel Vieira Lima era ministro do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e saía das eleições municipais como um dos principais vencedores. Se em 2004 a corrente do peemedebista havia levado 33 prefeituras, quatro anos depois abocanhava 115. Aos 49 anos, concedeu entrevista a VEJA em que refutava comparações com Antonio Carlos Magalhães e falava de nepotismo e fisiologismo. Instado a explicar por que seu PMDB queria tantos cargos, respondeu: “O que está embutido nessa pergunta é a ideia de que os cargos só servem para facilitar o financiamento de campanhas e para fazer outras mutretas. Se isso acontece, cabe aos órgãos de controle e à imprensa denunciar. Quem estiver podre que se exploda, pague seu preço. O que não se pode admitir é que o comportamento de alguns apequene a atividade pública.”

O ministro da Integração Nacional era então visto como peça-chave na costura do apoio do PMDB ao PT na disputa presidencial de 2010, concretizada afinal com a escolha da chapa formada por Dilma Rousseff e Michel Temer. “O PMDB não vai apunhalar Lula. Mas também é ilusão achar que vai apoiar um petista para presidente em 2010, 2014, 2018 e assim por diante. Só não haveria dificuldade se o candidato fosse o presidente Lula. Há setores do PMDB que não querem manter a aliança com o PT, mas eu defenderei o apoio ao candidato de Lula”, dizia. “A verdade, porém, é que os partidos costumam fazer alianças por um tempo determinado. O PMDB não é o PT. É legítimo, portanto, que em dado momento possa tomar uma atitude diferente. A aliança com o PT, a meu ver, é mais coerente, mas eu seguirei a decisão do partido.”

Naquele ano longínquo, o peemedebista lamentava a “aridez” da cena política nacional, ressalvando a liderança de Lula e dos então governadores José Serra (São Paulo), Sérgio Cabral (Rio de Janeiro) e Aécio Neves (Minas Gerais), todos hoje na mira da Lava Jato, assim como o próprio Geddel, preso nesta segunda-feira pela PF, em um dos desdobramentos da operação policial.

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Já então se anteviam as chances de que o PMDB ficasse com as presidências tanto da Câmara como do Senado. A sigla faria do governo petista seu refém? “Só acreditaria que Lula se tornaria refém se os líderes do PMDB fossem canalhas que quisessem chantageá-lo. Não penso assim. O partido tem a maioria nas duas Casas e faz uma reivindicação justa”, dizia. “Só que quem quer Justiça recorre às cortes, não faz política. Essas eleições podem solidificar ou esgarçar a relação dos dois maiores partidos da base de Lula, e que, no meu entendimento, devem ser o esteio da candidatura do governo em 2010. É por isso que precisamos encontrar uma solução harmônica. O melhor para o governo é que o PMDB fique com a Câmara e ceda o Senado.” O PMDB acabou ficando mesmo com o comando simultâneo das casas: em fevereiro de 2009, Michel Temer levou a presidência da Câmara, e José Sarney, o Senado.

Temer, aliás, é citado brevemente por Geddel na entrevista. O ministro dizia então considerar que o nepotismo “é da cultura do país”. “Sou é contra o abuso e a generalização. Se você bota trinta parentes no gabinete, é um abuso. Também é injusto massacrar uma pessoa competente só porque ela é de sua família”, dizia o ministro, que empregara um irmão e uma cunhada em seu gabinete e tinha a mulher lotada no gabinete de um correligionário. Abuso? “Não. Minha mulher trabalhava no gabinete do Michel Temer, mas ela não era ainda minha mulher. Meu irmão foi meu braço-direito. Se não houvesse a lei antinepotismo, seria até hoje. Minha cunhada prestava um serviço relevante.”

Geddel tentaria em 2010 o governo da Bahia, sendo derrotado pelo petista Jaques Wagner. Eleita a chapa Dilma-Temer, seria indicado para exercer a vice-presidência de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal, gestão que os investigadores da Lava Jato suspeitam fraudulenta. Em 2014, Geddel tentou o Senado e foi novamente batido nas urnas. Voltaria à Esplanada em 2016, com a queda de Dilma. Por indicação de Temer, assumiu a Secretaria de Governo, responsável pela articulação política. Durou pouco como homem-forte do novo governo. Em novembro, foi abatido pelas revelações do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, que contou ter sido pressionado por Geddel a liberar a construção de um prédio em uma área tombada pelo patrimônio histórico em Salvador.

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