O novo presidente da Câmara, Arthur Lira, começou com o pé direito: chutando.
Em seu primeiro dia, Lira revogou ato de Rodrigo Maia e invalidou o bloco de apoio a Baleia Rossi, na prática removendo todos os adversários de Bolsonaro da mesa diretora e convocando nova eleição. O motivo foi uma tecnicalidade irrelevante: o bloco de Baleia foi registrado com seis minutos de atraso — coisa que Lira definiu como “vício insanável”.
A oposição gritou alto, classificou o ato de Lira de “autoritário, antirregimental e ilegal” e recorreu ao Supremo Tribunal Federal. (Lira recuou e chegou a um acordo com a oposição.)
No segundo dia, Lira patrocinou a indicação da deputada bolsonarista Bia Kicis para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça. Kicis é investigada por sua notória participação em manifestações golpistas e chegou a defender intervenção militar no próprio plenário da Câmara dos Deputados.
Que o nome de Kicis seja sequer aventado para a presidência da mais reverenda e importante comissão da Câmara é um acinte e um escárnio; que ela venha a ocupar o cargo é um pesadelo. Foi um escândalo, e não só a oposição, mas até aliados de Lira, protestaram. (Lira tentou tirar o corpo fora dizendo que quem nomeia não é ele, “são os líderes” etc.)
A principal virtude do Centrão — provavelmente a única — é a vocação para o diálogo, o costume de resolver as coisas sem confronto direto. Lira, aparentemente, tem todos os defeitos do Centrão e pelo menos mais um.
O presidente da Câmara não é chefe dos demais deputados, é apenas o primeiro entre iguais. Se a opção preferencial de Arthur Lira for, como parece, o confronto (tão característico de Bolsonaro), sua trajetória na Câmara estará fadada ao fracasso.