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Caso Marielle: mas é só isso? E sobre Bolsonaro, nada?

O ministro Ricardo Lewandowski e a Polícia Federal consideram o caso Marielle Franco encerrado, mas a verdade é que apenas arranharam a superfície

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 Maio 2024, 11h04 - Publicado em 25 mar 2024, 19h33

Caso Marielle: mas é isso? E o Bolsonaro?

O ministro Ricardo Lewandowski e o diretor da Polícia Federal, Andrei Rodrigues anunciaram que o assassinato de Marielle Franco está desvendado. E encerrado.

O anúncio deixa uma desconfortável sensação de que ficou faltando muito.

Para começar, faltam as provas. Delação premiada, como se sabe, não é elemento de prova. E, por enquanto, não apareceu nada que demonstre que Ronnie Lessa diz a verdade.

Além disso, é estranho Lessa aceitar cometer um crime tão complexo e perigoso sem receber nada à vista, contentar-se com a promessa de ganhar um lote imobiliário em algum momento do futuro.

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Também falta um motivo convincente para o crime. Os Brazão podem ser criminosos, mas não são burros. São inteligentes e pragmáticos,  e sabem que matar parlamentares não é coisa banal.

As divergências sobre o projeto de lei 174/2016 parecem pouco: afinal, o projeto foi aprovado antes do atentado. A tese de que Marielle estaria convencendo moradores a não comprar imóveis também parece pouco convincente, a área de atuação de Marielle não era brigar com a milícia.

E falta explicar muita coisa — especialmente sobre os pontos de contato de Jair Bolsonaro com o caso. Vejamos alguns exemplos:

  1. Élcio de Queiroz e Ronnie Lessa foram presos em março 2019. O governador Wilson Witzel, então aliado próximo de Bolsonaro, diria em 2021 que a prisão deixou Bolsonaro “profundamente irritado”. Por quê?

  2. Um dos motivos pelos quais Lessa e Queiroz foram presos foi a entrada da Polícia Federal no caso. Após a prisão, Bolsonaro começou a pressionar Sergio Moro para substituir o superintendente da PF do Rio. Em agosto, Moro cedeu. Por que o presidente quis trocar o chefe da PF no Rio?

  3. Em outubro, o Jornal Nacional revelou que o porteiro do condomínio (onde moravam Jair Bolsonaro e o assassino de Marielle) havia afirmado que, no dia do crime, o motorista Élcio de Queiroz procurara o “seu Jair” na casa de Bolsonaro. O porteiro foi desmentido, se retratou e sumiu do mapa. Vive acuado. Alguém induziu o porteiro a implicar Bolsonaro? Alguém o ameaça? Quem? Por quê?

  4. Em fevereiro de 2020, o matador de aluguel Adriano Magalhães da Nóbrega, antes suspeito do assassinato , foi morto pela PM/BA em uma operação com características de queima de arquivo. Adriano era próximo dos Bolsonaro, que sempre o defenderam, e a Flávio chegou a empregar a mulher e a mãe do matador em seu gabinete de deputado estadual.

    Mais tarde, a viúva de Adriano afirmou à polícia que Adriano recusara o contrato para matar Marielle. Quem teria oferecido o contrato? E a irmã do matador, Daniela, disse (num telefonema grampeado pela polícia) que a morte de Adriano teria sido decidida no Planalto, que “cargos comissionados” teriam sido dados em troca de ele ser transformado em “arquivo morto”. Por que isso não foi investigado?
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  5. Depois da morte de Adriano, Bolsonaro voltou a pressionar Moro para substituir (pela segunda vez) o superintendente da PF no Rio. “Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro!”, disse na reunião de 22 de abril. Dois dias depois, o diretor da PF, Maurício Valeixo, e Moro caíram juntos. O novo diretor, Rolando Alexandre de Souza, trocou o superintendente do Rio no mesmo dia em que foi empossado. Por quê?

  6. Em julho de 2021, as promotoras Simone Sibilio e Letícia Emile, responsáveis pela prisão de Lessa e Queiroz, abandonaram o caso alegando “riscos de interferências externas”. Quem estava interferindo? E por quê?

Essas são apenas algumas das muitas perguntas que o relatório da PF deixa sem respostas.

Definitivamente, o caso Marielle não está encerrado. Talvez nunca esteja.

(Por Ricardo Rangel em 25/03/2024)

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