Black Friday: assine a partir de 1,00/semana
Imagem Blog

Ricardo Rangel

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Continua após publicidade

Grito, choro e ranger de dentes

O conflito entre o liberalismo e o reacionarismo

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h24 - Publicado em 6 out 2023, 06h00

“Estado de coisas inconstitucional”: é assim que o STF define o sistema carcerário brasileiro. Trata-se da violação ampla, constante e sistemática de direitos humanos fundamentais.

Não é novidade: todo mundo sabe que o sistema prisional brasileiro é um inferno. Há superlotação de celas; assassinatos, estupros e tortura; mistura de sexos; faltam água e higiene. E grande parte dos presos não deveria sequer estar presa. Os presídios são fábricas de criminosos perigosos e fornecedores de mão de obra para o crime organizado.

A novidade é a determinação à União (e aos estados) que apresente um plano para corrigir a situação.

Para o governo Lula, é um constrangimento: a esquerda é defensora dos direitos humanos e o ministro da Justiça acaba de anunciar um plano de segurança que promete construir mais presídios, mas não fala sobre a situação dos presos em si. Sem falar que o PT ficou treze anos no poder e nada fez em relação ao assunto.

Já os bolsonaristas acham que esse papo de direitos humanos é coisa de comunista. Bolsonaro sempre sugeriu que “vagabundos” devem ser encarcerados e esquecidos. Ou mortos. Augusto Heleno costumava repetir o repugnante gracejo de “direitos humanos para humanos direitos” (é de supor que os humanos “não direitos” sejam criminosos, usuários de drogas, moradores de favelas, pretos, pobres, desempregados, esquerdistas e outros “vagabundos”).

Continua após a publicidade

“A situação dos presídios foi a pauta da primeira sessão do STF sob a presidência de Barroso. A escolha é emblemática”

Bolsonaristas também vivem reclamando do “ativismo” do Supremo e de que o tribunal (que reputam também comunista) interfere nos outros poderes. Ou seja, deveriam reclamar enfaticamente da decisão do Supremo. Só que isso os colocaria na desconfortável posição de defender o governo Lula. Talvez seja melhor não bater bumbo.

Direitos humanos, evidentemente, não são coisa de comunista. São coisa de liberal. O artigo 5º da Constituição, que regula direitos individuais, se inscreve no contexto das lutas liberais contra o autoritarismo, que incluem o habeas-corpus (1679), os Bill of Rights inglês (1689) e americano (1789), a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da Revolução Francesa (1789) e a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU (1948).

Continua após a publicidade

A situação dos presídios foi a pauta da primeira sessão do STF sob a presidência de Luís Roberto Barroso. A escolha é emblemática: Barroso deixa claro o que se pode esperar de sua gestão. É má notícia para os bolsonaristas: várias das pautas que lhes são mais caras — casamento homoafetivo, drogas, aborto, até terras indígenas — passam pelos direitos individuais.

O conflito entre o liberalismo do STF e o reacionarismo bolsonarista será acirrado. E com golpes abaixo da cintura: o bolsonarismo acaba de propor uma emenda constitucional dando ao Congresso o poder de revogar decisões do Supremo que “extrapolem os limites constitucionais”. É obviamente inconstitucional: mesmo que passe, o que é quase impossível, será imediatamente derrubada… pelo STF. Mas serve como amostra do que vem por aí.

A política brasileira continuará na base do grito, choro e ranger de dentes por um bom tempo.

Publicado em VEJA de 6 de outubro de 2023, edição nº 2862

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.