Lula trata Haddad pior do que tratou Palocci
O ministro da Fazenda não merecia esse tratamento. Mas a conduta de Lula não surpreende.
Fernando Haddad não merecia isso. Ministro incansável, mas que não faz nada sem combinar com Lula, Haddad é um escudeiro tão fiel que, mesmo candidato a presidente, em 2018, ia toda semana visitar Lula na cadeia para prestar contas e receber instruções. Entre todos os ministros, é o que dá mais credibilidade ao governo — ou dava, já que a credibilidade se foi.
Mesmo sem ter nada a ganhar, e apesar da certeza de criar uma crise, Lula optou por atropelar e humilhar seu melhor ministro. Mas não chega a surpreender. Lula sempre administrou pelo conflito e nunca deixou uma liderança petista brilhar forte.
Seja como for, ganhou Rui Costa, chefe da Casa Civil, que quer licença para gastar. A disputa entre a Fazenda e a Casa Civil lembra um episódio durante o primeiro mandato de Lula, quando o ministro da Fazenda Antonio Palocci conduzia a economia com a mão firme e o olho no equilíbrio fiscal.
Em novembro de 2005, houve uma reunião em que o ministro do Planejamento Paulo Bernardo apresentou um plano para limitar o crescimento de gastos ao crescimento do PIB. Seria o “teto de gastos” de Lula. A recém-empossada (após a queda de José Dirceu) chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, não gostou. E deu entrevista dizendo que o plano apresentado era “rudimentar”. Foi além: “despesa é vida”, disse.
Dilma atirou em Paulo Bernardo, mas o alvo era Palocci, e acertou em cheio. Lula deveria ter defendido a política econômica de Palocci, que era a política de seu governo, mas fechou-se em copas. Dilma ganhou.
Em março de 2006, quando Palocci caiu (por conta do escândalo do caseiro Francenildo), sua política econômica já estava condenada. No mesmo mês, saíram Joaquim Levy e Murilo Portugal; Marcos Lisboa, mais impaciente, saiu ainda em 2005.
Dilma prevaleceu junto com sua visão econômica: o novo ministro, Guido Mantega, implantou a “Nova Matriz Econômica”. Que causaria uma devastação fiscal, levaria inflação, juro e desemprego aos píncaros e derrubaria Dilma.
O filme em que o PT levou o Brasil à lona começou muito parecido comeste, cujo início estamos vendo agora. Vamos torcer para a projeção ser interrompida o quanto antes.
Em tempo. Um caso diferente. Em 2 de setembro de 1999, o ministro do Desenvolvimento de FHC, Clóvis Carvalho, pediu mais “ousadia” à equipe econômica, dizendo que o “excesso de cautela” naquele momento era sinônimo de covardia. O alvo era Pedro Malan. Clóvis era amigo próximo de FHC, mas foi demitido. No dia seguinte.