Roberto Castello Branco, ex-presidente da Petrobras, surpreendeu analistas do mercado financeiro aparecendo em uma reunião envergando uma camiseta com os dizeres “mind the gap”. É uma expressão usada no metrô de Londres para alertar os passageiros sobre o vão entre o trem e a plataforma (gap pode significar vão, lacuna, brecha, defasagem, distância, diferença).
Castello Branco explicou que a expressão era seu lema para lembrar a sua equipe que não basta a ser competente: a Petrobras deveria ser tão boa quanto as melhores empresas petróleo do mundo. Com efeito, a empresa apresentou lucro recorde no último trimestre, mas é improvável que Castello Branco tenha escolhido seu vestuário apenas para tecer elogios a si mesmo e a seus auxiliares. Há hipóteses mais interessantes.
Como Bolsonaro interveio na Petrobras com o propósito escancarado de segurar preços, Castello pode estar fazendo um alerta ao presidente para ter “cuidado com a defasagem”: apesar dos recentes aumentos, o preço do combustível vendido pela Petrobras continua defasado em relação aos patamares internacionais. E preços defasados, que fizeram a Petrobras perder bilhões, foram um dos fatores que levaram à queda de Dilma.
Castello Branco também pode ter feito um alerta a respeito da distância entre o que o presidente combina e o que faz. Bolsonaro prometeu realizar uma administração liberal, mas fez tudo menos isso. E acertou com Castello que a Petrobras teria uma administração estritamente profissional e técnica, mas o demitiu justamente porque foi isso que ele fez. (O alerta aqui seria mais para o novo presidente, general Joaquim Silva e Luna, do que para Guedes, que, a esta altura, já está cansado de saber que Bolsonaro não cumpre a palavra.)
Por fim, “mind the gap” pode ter um significado mais próximo do original. O aviso no metrô significa basicamente, “não caia no buraco”. Guedes já caiu em vários buracos criados por Bolsonaro, Castello Branco caiu em um buraco definitivo.
O general Silva e Luna ainda não caiu em nenhum buraco, mas todo mundo sabe o que o espera. Se, como Pazuello, obedecer ao que o chefe mandar (após reclamar dos preços, Bolsonaro avisou que a Petrobras deve ter “função social”), se desmoraliza. Se, como Mandetta, fizer o que deve ser feito, se desgasta e cai.
Ou seja, a chance de Joaquim Silva e Luna cair no buraco é 100%.