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O caos e os pamonhas

É da natureza de Bolsonaro buscar o pior — cabe a nós evitar

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h15 - Publicado em 19 mar 2021, 06h00

Pamonha. S2g., a2g., indivíduo mole, abobado, preguiçoso.

Foi uma facada nas costas: enquanto Bolsonaro conversava com Ludhmila Hajjar, as milícias bolsonaristas a trucidaram nas redes. A facada foi também em quem a indicou: o presidente da Câmara, Arthur Lira (também linchado); Augusto Aras, da PGR; os ministros do Supremo Gilmar Mendes e Dias Toffoli. Como Lira tem o poder de votar o impeachment, Aras tem o poder de denunciá-lo, e o STF tem o poder de afastá-lo do cargo, foi um ato meio suicida o do presidente.

Ludhmila foi ingênua, mas merece apoio e solidariedade, até porque as milícias bolsonaristas não se satisfazem mais com linchamentos digitais: fizeram ameaças de morte e tentaram invadir seu quarto de hotel. As milícias aterrorizaram também João Doria e sua família e até a mãe do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande. Roberto Jefferson fez live pregando o fechamento do STF e do Congresso. Um homem publicou vídeo em que aparece armado e ameaça o ex-presidente Lula. Mas a prioridade da polícia foi, a pedido de Carlos Bolsonaro, intimidar Felipe Neto, que chamou Bolsonaro de “genocida” — palavra tão óbvia que já foi usada até por Gilmar Mendes e é base de investigação no Tribunal Penal Internacional, em Haia.

Descartada Ludhmila, Bolsonaro nomeou o cardiologista Marcelo Queiroga, que já avisou que a política é do governo, ele só executa e não faz mágica. Não anunciou plano, ideia ou alteração no ministério, lotado de militares sem qualificação. Vai ser outro Pazuello. Ou talvez ache que vai fazer a mágica de conciliar abordagem técnica com o negacionismo do presidente — e será outro Nelson Teich. Queiroga pode ser o protagonista que quiser, Mandetta, Teich ou Pazuello, os três filmes têm o mesmo final.

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“Hoje, apesar da calamidade, Bolsonaro estaria no segundo turno das eleições de 2022”

O Centrão ficou irritado. “Não teremos paciência com Queiroga. É acertar ou acertar”, disse Marcelo Ramos, vice-­presidente da Câmara. Bolsonaro “terá de acertar na seleção do quarto ministro porque o país não vai parar para discutir quem será o quinto, mas sim o próximo presidente”, ameaçou outro político do Centrão. Como “acertar” significa vacina ou isolamento, e vacina não vai ter em quantidade nem tão cedo, e isolamento Bolsonaro vai impedir, seria melhor o Centrão ir logo conversar com o Mourão — que, a postos, advertiu que Bolsonaro “é o responsável por tudo o que aconteça ou deixe de acontecer”.

Os deputados agora irritadinhos com o presidente são os mesmos que barram o impeachment em troca de cargos e verbas. Ricardo Barros acha que a pandemia está “até confortável”. Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, diz que as irregularidades na Saúde “devem ser investigadas, inclusive por CPI”, mas não deixa o pedido de CPI andar. Augusto Aras, candidato a ministro do STF, finge que não vê os indícios de crimes na conduta de Bolsonaro.

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A pesquisa Datafolha revela que a rejeição ao presidente está crescendo, mas… sua aprovação segue acima de 30%. Hoje, apesar da calamidade, Bolsonaro estaria no segundo turno de 2022.

Bolsonaro busca o caos porque é de sua natureza. Nós permitimos porque nossa natureza é de pamonhas.

Publicado em VEJA de 24 de março de 2021, edição nº 2730

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