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Política, negócios, urbanismo e outros temas e personagens gaúchos. Por Paula Sperb, de Porto Alegre
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Colônia russa fundada há mais de 100 anos celebra estreia na Copa

Imigrantes vindos da Rússia fundaram Campina das Missões, no Rio Grande do Sul, em 1909

Por Paula Sperb
Atualizado em 14 jun 2018, 19h40 - Publicado em 14 jun 2018, 17h06

Fugindo do rigoroso inverso que inviabilizava o plantio e a colheita de alimentos durante a maior parte do ano, famílias deixaram a Rússia em busca de uma vida sem fome e em um clima mais ameno no Brasil. Os primeiros russos chegaram no país em 1909 para povoar o noroeste gaúcho, onde fundaram a cidade de Campina das Missões, a 418 km de Porto Alegre. Entre 1909 e 1912, entraram no estado 19.525 imigrantes russos. Atualmente, a cidade tem cerca de 6.000 moradores, destes pelo menos 1.500 descendem diretamente dos russos.

Em Campina das Missões, a língua, o folclore e a religião dos fundadores são preservadas. A primeira Igreja Ortodoxa Russa do Brasil foi erguida na cidade, em 1912. Mantendo a ligação com o país ancestral, os moradores da localidade prepararam uma celebração para acompanhar a transmissão da cerimônia de abertura da Copa do Mundo de 2018 na manhã desta quinta-feira, 14. Cerca de cem pessoas assistiram pela televisão ao evento esportivo e comemoraram a goleada de 5 a 0 da Rússia contra a Arábia Saudita.

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Família Zabolotsky, que chegou a Campina das Missões em 1911 (Acervo pessoal/VEJA.com)

Aos torcedores foram servidos pão preto e sopa borsch, receita típica que leva beterraba e repolho, ao ritmo de música tradicional, segundo Ilse Ana Perius Zabolotsky, de 60 anos, organizadora da festa. “Foi uma goleada comemorada com muita ênfase”, disse Ilse Ana à reportagem.

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A festa também serviu para recepcionar Yuri Lezgintev, cônsul-geral da Rússia em São Paulo, que acabou assistindo à maior goleada em uma estreia de Copa do Mundo desde 1954, quando o Brasil ganhou do México, também por 5 a 0, na Suíça. A Rússia não vencia há sete partidas.

“Quando a Rússia joga, torço para a Rússia. Mas quando o Brasil entra em campo, torço pelo Brasil porque é a nossa pátria”, disse a VEJA Jacinto Zabolotsky, advogado de 61 anos, casado com Ilse Ana. O pai de Zabolotsky chegou a Campina das Missões em 1911 ainda menino, com onze anos. O advogado é, portanto, parte da primeira geração de descendentes dos imigrantes russos. Historiador, ele pesquisa e preserva a memória dos russos da região.

“Quando vieram ao Brasil, as famílias esperavam encontrar a ‘terra prometida’. Mas encontraram dificuldades, mata fechada. Trabalharam muito. Ganharam do governo os mantimentos iniciais e pagavam os lotes de quinze hectares com trabalho em obras, como estradas”, explica Zabolotsky.

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“Diante de tantas vicissitudes, os imigrantes encontraram força na fé. Era um refúgio para aguentar o sofrimento, a dor, o cansaço”, diz sobre a fundação da primeira Igreja Ortodoxa Russa no Brasil. A religiosidade é um dos traços mantidos na colônia juntamente da língua, que costuma ser ensinada aos filhos pelos pais.

No próximo domingo, 17, quando o Brasil joga contra a Suíça, Zabolotsky garante: “Vou torcer como brasileiro”.

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Primeira Igreja Ortodoxa Russa do Brasil, erguida em 1912, em Campina das Missões, Rio Grande do Sul (Acervo Jacinto Zabolotsky/VEJA.com)
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