Filiado ao PSDB desde os 16 anos, Eduardo Leite foi o prefeito mais jovem eleito em Pelotas, sua cidade natal, governada por ele de 2013 a 2016. Agora, Leite quer ser governador do Rio Grande do Sul e confia que tanto ele como Geraldo Alckmin, que concorre a presidente, podem chegar ao segundo turno da eleição.
Leite aposta na responsabilidade fiscal com promoção do desenvolvimento por meio de atração de investimentos privados para tirar o estado da crise. O tucano acredita que “o estado não deve estar em todas áreas, mas que deve ter papel de promoção social”. Além disso, Leite é a favor da privatização de estatais deficitárias, mas é a contrário à privatização do Banrisul que “cumpre uma função pública, dá lucro, tem uma posição que pode ser estratégica”.
Eduardo Leite é o segundo entrevistado, por ordem alfabética, nessa série de VEJA com os pré-candidatos ao Piratini. A primeira entrevistada foi Abigail Pereira (PCdoB). Abaixo, a entrevista de Leite e fotos de arquivo pessoal selecionadas por sua equipe a pedido de VEJA.
Data de nascimento: 10/03/1985
Naturalidade: Pelotas
Estado civil: solteiro
Cônjuge: solteiro
Filhos: sem filhos
Formação: mestrando em Gestão Pública pela FGV
Histórico de filiação partidária: filiado ao PSDB desde os 16 anos
Profissão: Bacharel em direito pela UFPel (Universidade Federal de Pelotas)
Por que o senhor quer ser governador?
Entendo que política é missão. Através da política, me sinto colaborando para transformar a realidade. Todo mundo pode dar uma contribuição para um mundo melhor sendo um bom pai, uma boa mãe, um bom filho, um bom profissional. Mas a política dá escala a essa transformação. Quando se atua em um governo, se consegue tocar na vida de milhões de pessoas. Depois de ter sido prefeito de Pelotas, ter conseguido eleger um sucessor, terminado meu mandato com 87% de aprovação, fui chamado para liderar um projeto para o estado. Me escolheram para essa missão e vou me dedicar a ela.
Qual é a prioridade do senhor para o estado?
Temos que colocar o Rio Grande do Sul novamente como protagonista do desenvolvimento. Isso significa equilibrar as contas, conter despesas, atrair investimentos privados e gerar renda e emprego para voltar a ter perspectiva de futuro. Hoje não há uma perspectiva clara, o estado é hostil ao empreendedor, tem carga tributária muito alta. Priorizar a segurança também é uma estratégia para reter os talentos no estado, para poder dar tranquilidade para as famílias.
O estado vive uma crise que atravessa gestões. Mas foi durante o governo de Yeda Crusius (PSDB), 2007 a 2011, que o Rio Grande do Sul teve um período sem déficit nas contas. A que isso se deve?
Gastar apenas o que se arrecada não deveria ter componente ideológico. É uma premissa básica de governo e da vida privada. Para a maioria das pessoas é assim, tem o salário e se gasta até o valor dele. É uma marca do PSDB buscar esse equilíbrio e essa sustentabilidade, que gera pagamento em dia de funcionários e servidores. É uma questão estratégica para desinflacionar preços. Se o fornecedor sabe que vai levar de seis meses a um ano para receber, ele vai embutir no preço esse custo. O governo do PSDB priorizou esse ajuste de contas, mas no período seguinte, do PT, a despesa foi maior que a receita. É claro que isso não se sustenta. O Rio Grande do Sul tem um dos menores investimentos do Brasil, se não o menor.
Como o senhor fará para pagar os salários em dia?
Promover uma reforma do estado, renegociar a dívida com a União, revisar a estrutura dos servidores e o custo da folha de pagamento. O Rio Grande do Sul é o único estado do Brasil que gasta mais com aposentados do que com ativos. O problema do atual governo é fazer cortes de gastos sem ampliar a receita a não ser por meio de aumento de impostos. Temos que atrelar as duas coisas, cortes de gastos e mais receita, para gerar a capacidade de pagamento em dia. É preciso viabilizar investimento privado em infraestrutura, que gera maior competitividade e, no curto prazo, gera empregos e arrecadação. O dinheiro que estava fora do estado é captado, a inciativa privada se capitaliza, investe em obras e gera receita.
Essas são as propostas do senhor para tirar o estado da crise?
Sem dúvida. A crise é grave, a superação dela é complexa, não é fácil de ser feita. A gente precisa tanto promover ajuste nas contas para evitar o colapso total como precisa oferecer perspectiva de futuro. Hoje, quem olha para o futuro não tem clareza e perspectivas, isso desanima os investidores.
A segurança é um dos temas que mais preocupam os gaúchos. Quais são as propostas do senhor para a área?
Começamos pela indicação para vice-governador do delegado Ranolfo Vieira Júnior (PTB), ex-chefe de polícia civil do estado (2011-2014). Estamos muito focados em desenvolver um plano de segurança que promova a integração entre as polícias e municípios. A segurança permeia a educação, a saúde, a assistência social, áreas que lidam com a mesma população e pouco conversam entre si. Precisamos reforçar o efetivo, mas não da forma como está sendo implementado. Ao invés de fazer isso no início dos mandatos, deixam para o final uma incorporação em massa. É muito ruim tanto para o treinamento quanto para quando se desligarem. No sistema penitenciário, temos um alto déficit de vagas. Além disso, a forma como o estado lida com os presídios é praticamente uma “segurança externa”. Lá dentro, as facções dominam e recrutam novos membros que retornam mais perigosos à sociedade. Vamos buscar recursos federais e parcerias público-privadas.
No Rio Grande do Sul, qualquer privatização precisa ser aprovada por votação popular em um plebiscito. A atual gestão tentou, primeiro, retirar a obrigatoriedade do plebiscito para realizar as privatizações e, depois, tentou realizar o plebiscito simultaneamente às eleições antecipando o prazo da convocação. Qual é a opinião do senhor sobre a lei e sobre a privatização?
Nunca o Brasil fez um plebiscito junto com eleições. Queriam inaugurar o plebiscito junto com eleições. É altamente temerário, não era desejável. Um plebiscito define e sela nosso destino. Não poderia ser rediscutido depois, veja o caso do Brexit [para saída do Reino Unido da União Europeia]. Foi uma decisão tomada com baixa participação. Mas somos a favor das privatizações, especialmente das empresas deficitárias. O Banrisul não é uma prioridade e não está no plano para privatização porque cumpre uma função pública, dá lucro, tem uma posição que pode ser estratégica e pode ser aproveitado.
O senador Aécio Neves (PSDB), que deixou a presidência do partido, esteve envolvido em escândalos de corrupção recentes. O senhor acredita que isso pode lhe prejudicar durante a eleição?
O sistema político brasileiro tem uma série de problemas que acabam indo para os partidos, como a lógica do financiamento [de campanha]. O que mais importa é que os partidos são a base para que o eleitor identifique como pensa, do ponto de vista programático, o candidato. O PSDB é um partido de pensamento socialdemocrata que reconhece o mercado e a necessidade da iniciativa privada empreender, reconhece que o estado não deve estar em todas áreas, mas que deve ter papel de promoção social. Sobre a conduta errada, o senador Aécio deve responder pessoalmente e está respondendo. A diferença é a postura. O PSDB não defende institucionalmente a corrupção. Sendo julgados e condenados, devem cumprir a pena. Não estamos na frente do Judiciário acusando golpe ou defendendo que sejam soltos ou inocentados. Assim como Lula pode se defender, o senador tem seu direito à defesa.
Nas pesquisas eleitorais, atrás do ex-presidente Lula, que está preso, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) lidera. Qual sua opinião a respeito dele?
Entendo que é alguém sem preparo para assumir a Presidência. Ele tem todo um histórico no Legislativo, sem ter atuado no Executivo. Portanto, carece de uma experiência fundamental para dirigir o país, além opiniões das quais tenho divergência. A democracia não é um caminho fácil, mas é o único caminho que tem que ser trilhado com diálogo. Nosso país tem diversidade, peculiaridades culturais e regionais. A diversidade tem que ser respeitada.
O senhor acredita que a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência pode chegar ao segundo turno?
Confio nisso. O Alckmin tem a experiência necessária, serenidade e tranquilidade. É isso que o país precisa depois desse período tumultuado. Ele tem todas as condições para discutir temas de maior relevância, uma agenda de maior desenvolvimento. Alckmin governou o estado mais importante do país, reduziu a criminalidade, atravessou a crise com responsabilidade, o estado mantém bons indicadores de investimento, saúde e educação. Ele é alguém preparado e com capacidade política.
O senhor aparece tecnicamente empatado em segundo lugar na pesquisa eleitoral do Instituto Methodus, atrás do atual governador José Ivo Sartori (MDB). O que o senhor pensa desse resultado?
Já é um excelente resultado. Mas ainda tenho que ser mais conhecido. Tenho uma das menores taxas de rejeição, é algo significativo. Vamos levar nossa mensagem para todos os cantos do Rio Grande do Sul para que seja percebida e entendida.