Haitiana costura bolsas que chegaram a Semana de Moda de NY
Marca gaúcha reaproveita couro da indústria calçadista e contrata mão de obra de mulheres imigrantes
Quando compara sua cidade natal, a portuária Miragoâne, no Haiti, com a cidade que a acolheu, Caxias do Sul, na serra gaúcha, Maude Jules, de 32 anos, diz que as considera semelhantes. Porém, aponta uma diferença. “Aqui é mais seguro, lá é muito perigoso. No Haiti, quem não tem nada até mata quem tem alguma coisa. Ninguém ajuda quem é mais pobre. No Brasil se ajuda mais”, disse a VEJA.
Há cinco anos no Brasil junto com os dois filhos, de 15 e oito anos, Maude migrou como muitos dos seus conterrâneos, em busca de trabalho. Agora, ela produz artesanalmente bolsas em couro reaproveitado da indústria calçadista do Rio Grande do Sul. Sua produção foi longe: as peças fabricadas por ela e outras imigrantes foram desfiladas por modelos durante a Semana de Moda de Nova York do último ano. O desfile ocorreu com criações ligada à plataforma Flying Solo.
As bolsas são da marca sustentável Volta Atelier, da designer Fernanda Daudt, que supervisiona o trabalho das imigrantes, tanto em Caxias do Sul, como em São Leopoldo. Os acessórios também podem ser comprados pela Amazon e são comercializados em mais de dez pontos de venda nos Estados Unidos.
Antes de costurar, Maude trabalhou fabricando bombons e fazendo tradução no Centro de Atendimento ao Migrante (CAM) para ajudar os recém-chegados. Foi lá que ela aprendeu costurar manualmente e foi escolhida para fabricar as bolsas. Ela chega a costurar até três unidades por turno e, no turno inverso, segue trabalhando como tradutora.
Os filhos de Maude estão orgulhosos em saber que as bolsas fabricadas pela mãe também são comercializadas nos Estados Unidos. “Eles ficaram contentes porque agora tenho como sustentar a família. Eles estudam e adoram o Brasil, querem ficar”, contou à reportagem.
Para o futuro, seus planos envolvem retomar os estudos, interrompidos aos 17 anos, quando engravidou pela primeira vez, e fazer faculdade.