Kobra pinta escritor Mario Quintana, sua primeira obra em Porto Alegre
Artista brasileiro tem 50 murais nos Estados Unidos e grafites em trinta países
Reconhecido mundialmente, o grafiteiro Eduardo Kobra, de 44 anos, finalizou seu primeiro trabalho em Porto Alegre na tarde desta terça-feira, 15. Um mural de 12 metros de altura mostra o poeta gaúcho Mario Quintana (1906-1994).
Kobra tem cinquenta murais nos Estados Unidos, onde passou uma temporada de sete meses a trabalho e onde foi eleito uma das personalidades do ano, em Nova York. Além disso, já grafitou em cerca de outros trinta países.
O mural em Porto Alegre é repleto de detalhes das feições de Quintana, como os olhos expressivos, a barba crescendo no rosto, os fios das vastas sobrancelhas e as marcas do tempo na pele. O grafite, claro, tem os losangos coloridos que identificam os trabalhos de Kobra pelo mundo.
“Essa questão do detalhe gosto muito de fazer mesmo, para que a imagem seja reconhecida. Faço isso desde os 12 anos. É o estilo de trabalho que me proponho, faço muita perspectiva, anatomia, uso luz e sombra. É quase como pintar uma tela em grandes formatos”, contou a VEJA um pouco antes de finalizar o mural. Pela manhã, ele visitou a Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ), onde funcionava o antigo hotel Majestic, onde o escritor vivia (foto abaixo).
A obra na capital gaúcha foi pintada no prédio do tradicional Colégio Farroupilha, cuja estrutura passa por diversas melhorias para receber os estudantes no ano letivo que inicia no próximo mês. Kobra contou a VEJA que gostaria também de grafitar algum espaço de acesso público na capital gaúcha. O trabalhou de pintura levou seis dias. Antes, porém, o artista fez uma intensa pesquisa sobre o escritor e suas fotografias e preparou diversos esboços.
Neste ano, o artista deve pintar também um mural do escritor Jorge Amado (1912-2001), em Salvador. No Brasil, já pintou os escritores Ariano Suassuna e Ferreira Gullar. Ainda em 2019, Kobra deve passar uma temporada de quatro meses na Europa para grafitar uma série de murais e vai inaugurar uma exposição em Wynwood Walls, bairro dedicado ao grafite, em Miami.
“É um privilégio, recebo com muito entusiasmo os convites e tenho muito respeito pelo lugar onde faço as obras. Não esperava nem sair do bairro em que nasci, na periferia de São Paulo. Quem dirá ir para quase trinta países e fazer o que tenho feito hoje”, disse à reportagem.
Kobra já grafitou murais de cem metros de altura e já entrou no Guiness Book por pintar os maiores grafites do mundo, como o “Etnias”, de 170 metros de comprimento e 15 de altura, que mostra cinco rostos indígenas, cada um representando um continente do planeta.
“Sempre gostei de usar os muros para passar uma mensagem, seja do meio ambiente, da proteção animal. Faço murais sobre a paz, a união dos povos, contra o uso de animais para entretenimento. Fiz essa série em ova York que se chama “Cores para Liberdade”, que tem a ver com imigrantes. O mural do Rio de Janeiro com os índios é sobre a união dos povos, o da Anne Frank se chama “Olhares Para a Paz”, uma série que fiz com a Malala, Gandhi, Martin Luther king, pessoas que lutaram pela paz. Estou percebendo que as pessoas estão com essa visão em relação a paz, as pessoas querem isso. Existe uma mensagem”, explicou.